"É um tema tão importante e tão capacitante que deveria fazer parte [do currículo escolar], como o Português, a Matemática, o Estudo do Meio. (...) Desde os 3 anos", disse a responsável à Lusa à margem de um painel sobre Educação e Migrações no âmbito do VI Congresso Internacional da África Lusófona, que termina hoje em Lisboa.
Durante a sua intervenção, na Universidade Lusófona, a alta comissária para a Imigração e o Diálogo Intercultural recordou que existem hoje mais de 200 milhões de migrantes no mundo, o que "representaria, se se juntassem todos no mesmo território, o quinto maior país do mundo".
Questionando se as escolas mudaram o suficiente para se adaptarem às rapidas mudanças do mundo - em que por exemplo as 10 profissões mais procuradas hoje não existiam em 2004 -, Farmhouse defendeu que é preciso "um novo paradigma na educação" e que "a educação intercultural é a solução".
A educação intercultural, explicou, é um processo que se aprende e que passa por atitudes como: não generalizar; respeitar modos de ser e de estar; resistir à tentação de julgar apressadamente; ver o mundo de forma mais flexível e inclusiva; relacionar-se com os outros e colocar-se no lugar dos outros.
Para a alta comissária, quando as crianças são desde cedo "preparadas para sair de si próprias e para se pôr no lugar do outro, são preparadas para relações mais fortes e para relações de respeito mútuo".
"As crianças que estiverem preparadas para uma relação intercultural - que não tem de ser necessariamente entre portugueses e estrangeiros, porque todos nós somos diferentes - (...) serão adultos muito mais capacitados para se relacionarem neste mundo tão global", afirmou.
Farmhouse acredita que Portugal está a entrar no caminho da educação intercultural. O Ministério da Educação está a preparar, em parceria com o Alto Comissariado para a Imigração e o Diálogo Intercultural (ACIDI) um referencial em educação intercultural e o próprio ACIDI tem desenvolvido várias ferramentas à disposição das escolas.
Há também algumas escolas que "têm essa curiosidade e já por si vão trabalhando essas temáticas, mas "não há uma abordagem universal nem de caráter obrigatório", lamentou a alta comissária.