Prestes a completar 20 anos desde o lançamento do seu primeiro álbum, mas com uma carreira bem mais longa, Pedro Abrunhosa lembra a “altura em que não havia a velocidade a gravar discos que há hoje em dia”, e apresenta-nos o seu mais recente álbum ‘Contramão’, que chegou esta segunda-feira ao mercado.
Um disco que “já é um sucesso, estando em primeiro lugar no iTunes e nas vendas físicas”, e que representa um conjunto de “histórias de amor, medo, perda, desencanto e esperança”.
“Vivemos numa altura em que é necessário viver em contramão, em luta, resistência, perseverança e em que é necessário contrariar a falta de expectativas… em suma, resistir”, reflecte o cantor, que olha “a música como uma arte abstracta que representa a nossa vivência e a dos outros”.
O segundo tema do álbum, ‘Tudo lá para Trás’, constata isso mesmo. Nas palavras do autor e intérprete, “é como abrir o jornal todos os dias e desfolhá-lo até ao fim. Fala dos submarinos estragados, das auto-estradas que não vão dar a lado nenhum. Fala de histórias de um País mal gerido por muita gente ao longo de muitos anos. Tudo lá para trás. Já chega de fazer asneiras. É dizer: meus caros, esta é a realidade. Agora divirtam-se ou atormentem-se”.
Questionado sobre se também a música e a cultura estão em crise no nosso País, Pedro Abrunhosa é peremptório: “Se dependesse do Governo e do Estado estariam. Somos o país europeu como mais desorçamentação para a cultura. Nem sequer existe um ministério”.
“A cultura é a identidade do País, é a língua, e está muito acima da política, muito acima. A cultura somos nós. Aquilo que nós somos melhor a fazer é a ser portugueses”, garante o músico, para quem “ter cultura não é só ler um livro. É saber plantar uma batata, podar uma macieira e é o que os nossos pais nos ensinaram”.
O ‘Senhor do Adeus’
À semelhança do que aconteceu em 2007 com o álbum ‘Luz’ (em que fez o retrato de Gisberta, uma transsexual brasileira assassinada no Porto), também neste novo disco Pedro Abrunhosa conta a história de uma personagem marcante da cidade de Lisboa: o ‘Senhor do Adeus’, um homem que esteve durante 30 anos na Praça do Duque de Saldanha a dizer adeus às pessoas e carros que passavam… até que desapareceu.
“Foi ele que me escolheu. É daquelas personagens que passam pela minha vida porque as vejo, porque iluminam o espaço onde se encontram. A música ‘Senhor do Adeus’ simboliza a solidão do ser humano numa cidade tão grande como Lisboa e ao mesmo tempo a nossa própria solidão. Porque a música também serve para isto. Para contar a história daqueles que não têm voz”, explicou o cantor ao Notícias ao Minuto.
O paradigma do online
Numa altura em que a pirataria é tema de discussão, influenciando gravemente a venda de discos, Pedro Abrunhosa vê a Internet como um novo instrumento que tem múltiplas formas de ser utilizado. “Com a Internet podemos espalhar a nossa imagem e a nossa música, mas podemos também ser ouvidos em qualquer parte do planeta de forma gratuita. Da mesma maneira que com um lápis podemos furar um olho ou escrever um poema”.
Questionado sobre a proliferação de downloads ilegais, o cantor comenta: “Fica à consciência de cada um. Uma música custa 90 cêntimos, o preço de um café numa esplanada, e é algo que dura para a vida. Podemos utilizá-la, fazer amor com ela no carro e em casa, a vida inteira”, remata.