Numa entrevista à agência Lusa, o encenador português João Branco, diretor artístico do Mindelact e um dos fundadores, explicou que a ideia é fazer uma retrospetiva de todo percurso de um festival de teatro que é já considerado o mais importante da África Ocidental e dos mais importantes no continente africano.
"Queremos que a programação tenha um cunho retrospetivo. Já estamos a convidar companhias que marcaram presença nas 19 edições anteriores, a programar espetáculos inesquecíveis que fazem parte da história deste festival, e que muitos anos depois as pessoas ainda falam deles. Há companhias que já se disponibilizaram a remontar essas peças para poderem estar presentes nessa grande comemoração", disse.
Confirmada está já a remontagem do espetáculo "Lágrimas de Lafcádio", encenado pelo italiano Lamberto Carrozzi, com o Grupo de Teatro do Centro Cultural Português e que fez parte do cartaz da primeira edição do festival do Mindelo, cidade que acolhe, também este ano, o 30.º aniversário do certame musical "Baía da Gatas".
"Do elenco original de seis atores, três farão parte nessa remontagem, com mais barriga e menos cabelo, mas muito mais experiência e uma grande vontade de fazer parte dessa viagem no tempo", anunciou, realçando que o festival tem vindo, ao longo dos anos, a consolidar-se e a ganhar prestígio nacional e internacional.
"Nunca pensávamos muito nisso. Íamos trabalhando para que cada edição fosse um pouco melhor que a anterior, procurando sempre trazer alguma inovação. E é com enorme orgulho que verificamos que, 20 anos depois, temos um evento teatral que é conhecido, admirado e respeitado em praticamente todo o mundo", garantiu.
Por isso, o diretor artístico do festival afirmou que a diferença entre a primeira edição e a última é "grande", lembrando que, na estreia, em 1994, o festival durou três dias e teve cinco espetáculos, com a participação de três grupos teatrais, dois de São Vicente e um da ilha vizinha de Santo Antão.
Já na segunda edição, o Mindelact teve um "crescimento exponencial", conseguindo ser o mais longo realizado até hoje, com 25 dias de duração e grupos de quase todas as ilhas do arquipélago. A internacionalização chegou em 1997 e, desde então, não parou de crescer.
"Nas primeiras edições havia apenas os espetáculos de noite e uma ou outra atividade paralela. Hoje temos, além do Palco Principal, um Festival Off (espaço de experimentação teatral), a Teatrolândia (programação para crianças), o Teatro Periferia (espetáculos nas diversas periferias da cidade), o Teatro Performance (programação de performances em espaços públicos) e uma componente importantíssima de ações de formação. São quase seis festivais num só", explicou.
Um dos pilares do festival, segundo João Branco, tem sido a possibilidade de formação de agentes nacionais, através de oficinas e workshops, bem como trazer espetáculos das mais diversas origens, estilos, estéticas e linguagens cénicas.
"Um artista só pode evoluir se conhecer um pouco o que se faz no mundo na sua área. Além disso, o festival tem contribuído para a formação de um público. Generoso mas exigente. Entusiasta, mas conhecedor. Tem sido muito elogiado por todos os que apresentam os seus espetáculos, porque é de facto algo muito especial", argumentou.
João Branco recordou que, ao longo das 19 edições, a organização tem-se esforçado para apresentar vários espetáculos de África continental e de países de língua portuguesa, apesar de não limitar a programação a questões linguísticas.
"Já tivemos aqui grupos de Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe, mas também do Senegal, Mali, Marrocos, Guiné Equatorial ou Costa do Marfim", lembrou, estendendo a lista a países como Portugal, Brasil, França e Itália.
"Gostaríamos de ter tido maior presença africana, mas a circulação da informação nesta área é pouca. As dificuldades de transporte para fazer cá chegar os grupos são ainda muito grandes. Mas fizemos sempre questão de trazer companhias africanas, pois essa é uma componente importante deste festival", afirmou.