Nos pulsos, uma fita rosa assinalava a campanha "One Billion Rising for Justice", que juntou, para a coreografia, mulheres e homens, adultos, jovens e crianças, à entrada da estação de comboios lisboeta, despertando a atenção de quem por ali circulava, em hora de ponta.
Portugal aderiu, pela segunda vez, à campanha internacional que pretende pôr todos e todas a dançar pelo fim da violência contra as mulheres.
Daniel Coutinho, da APAV, uma das organizações associadas à iniciativa, recordou que 37 mulheres foram mortas pelos companheiros no ano passado e que nesta quinta-feira mais uma rapariga foi assassinada pelo namorado.
A violência contra as mulheres "não é uma doença psiquiátrica, é um crime", distinguiu, sublinhando que o silêncio só beneficia os agressores.
A iniciativa, organizada em conjunto pela organização em Portugal do V-Day, que assinala a luta contra a violência de género em todo o mundo a 14 de fevereiro, e pela Câmara Municipal de Lisboa, foi introduzida pela apresentadora de televisão Merche Romero e pelo ex-futebolista Daniel Carvalho (Dani).
Várias figuras públicas anunciaram o apoio à iniciativa, mas poucas foram as que apareceram no Rossio.
Em declarações à Lusa, a eurodeputada socialista Ana Gomes, que já no ano passado dançou pela mesma causa, destacou que "é importante" trazer o assunto da violência contra as mulheres para a praça pública. "E dançamos, para mostrar que somos mulheres, que gostamos de ser mulheres", disse.
"Aquele velho provérbio de que 'entre marido e mulher não metas a colher' é reacionário, errado, é uma desculpa para fechar os olhos quando há violência doméstica a passar-se ao pé de nós", denunciou.
"Não é possível mais a sociedade alhear-se disto e não é um combate que se possa fazer apenas através das leis", frisou, apelando à mobilização social.
Notando que "a crise económica" tem-se repercutido na violência doméstica, ao agravar "dramaticamente as condições de vida das famílias", Ana Gomes realçou que "tanto as mulheres como os homens" de vem bater "por uma sociedade melhor".
Além de Portugal, mais de 150 países dos seis continentes aderiram à campanha "One billion rising for justice" (www.onebillionrising.org), lançada pela dramaturga norte-americana Eve Ensler, após visitar a República Democrática do Congo, onde as mulheres violentadas curam as feridas através da dança.