O espetáculo, numa coprodução do Centro Dramático de Évora (Cendrev) e da ACTA -- A Companhia de Teatro do Algarve, é dirigido pelo encenador francês Pierre-Etienne Heymann e assinala os 40 anos do 25 de Abril.
"Pretendemos alertar ou despertar as pessoas para um acontecimento ímpar na nossa vida recente e contribuir para que as novas gerações possam confrontar-se com um olhar sobre um momento histórico não tão distante quanto isso", explicou hoje à agência Lusa José Russo, diretor do Cendrev.
Construído a partir de textos de cinco romances de António Lobo Antunes, o espetáculo reúne os relatos cruzados destas personagens que, com diferentes olhares sobre o 25 de Abril, recordam o que lhes aconteceu.
Um operário carregador de mudanças, uma burguesa caridosa, a esposa de um contrarrevolucionário, um militante político que foi preso em Caxias, uma camponesa explorada numa quinta, um banqueiro e a governanta do dono da quinta são os protagonistas.
"As personagens são muito diferentes e o interesse vem das relações entre os relatos. Cada um tem, com certeza, uma lembrança e uma visão da revolução muito diferente", disse Pierre-Etienne Heymann.
O encenador, "profundo conhecedor e apaixonado" pela obra de Lobo Antunes, como o apresentou José Russo, "bebeu" a sua inspiração dos livros "Auto dos Danados", "Conhecimento do Inferno", "Fado Alexandrino", "O Manual dos Inquisidores" e "Exortação aos Crocodilos".
No total são "nove cenas que são como nove movimentos de uma obra musical, porque a dimensão musical da obra de Lobo Antunes parece-me muito importante", disse.
E se os textos daquele "imenso escritor" foram material de trabalho natural para Pierre-Etienne, também a revolução de 1974 é especial para estas duas companhias teatrais descentralizadas.
"Queremos celebrar o teatro que a liberdade tornou possível porque, se não tivesse havido o 25 de Abril, não haveria hoje em Portugal um conjunto de projetos teatrais como o do Cendrev e o da ACTA", salientou José Russo.
Perante os "momentos muito difíceis" vividos na área da cultura, pois, os financiamentos do Estado "são ridiculamente reduzidos", a peça é ainda "um grito contra esta situação" e ganha mais "significado" nos 40 anos do 25 de Abril, frisou Russo.
Em fase de ensaios em Évora, a peça estreia no centenário Teatro Garcia de Resende, na cidade alentejana, na quinta-feira, Dia Mundial do Teatro, com o público a beneficiar de entrada gratuita.
"Autos da Revolução" fica em cena em Évora até 20 de abril e, depois, "ruma" para o Teatro Lethes, em Faro, onde vai ser apresentado a partir do dia 25 de abril e até 11 de maio, seguindo-se uma digressão pela Galiza (Espanha).
Mário Spencer, Rosário Gonzaga, Maria Marrafa, Bruno Martins, Tânia da Silva e Jorge Baião são os atores que "vestem" as personagens da história.