'Autos da Revolução' homenageia 25 de Abril em Évora e em Faro

Inspiradas na obra de António Lobo Antunes, sete personagens "revivem" o 25 de Abril de formas distintas em "Autos da Revolução", espetáculo que duas companhias de teatro de Évora e do Algarve se preparam para levar à cena.

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Lusa
23/03/2014 09:30 ‧ 23/03/2014 por Lusa

Cultura

António Lobo Antunes

O espetáculo, numa coprodução do Centro Dramático de Évora (Cendrev) e da ACTA -- A Companhia de Teatro do Algarve, é dirigido pelo encenador francês Pierre-Etienne Heymann e assinala os 40 anos do 25 de Abril.

"Pretendemos alertar ou despertar as pessoas para um acontecimento ímpar na nossa vida recente e contribuir para que as novas gerações possam confrontar-se com um olhar sobre um momento histórico não tão distante quanto isso", explicou hoje à agência Lusa José Russo, diretor do Cendrev.

Construído a partir de textos de cinco romances de António Lobo Antunes, o espetáculo reúne os relatos cruzados destas personagens que, com diferentes olhares sobre o 25 de Abril, recordam o que lhes aconteceu.

Um operário carregador de mudanças, uma burguesa caridosa, a esposa de um contrarrevolucionário, um militante político que foi preso em Caxias, uma camponesa explorada numa quinta, um banqueiro e a governanta do dono da quinta são os protagonistas.

"As personagens são muito diferentes e o interesse vem das relações entre os relatos. Cada um tem, com certeza, uma lembrança e uma visão da revolução muito diferente", disse Pierre-Etienne Heymann.

O encenador, "profundo conhecedor e apaixonado" pela obra de Lobo Antunes, como o apresentou José Russo, "bebeu" a sua inspiração dos livros "Auto dos Danados", "Conhecimento do Inferno", "Fado Alexandrino", "O Manual dos Inquisidores" e "Exortação aos Crocodilos".

No total são "nove cenas que são como nove movimentos de uma obra musical, porque a dimensão musical da obra de Lobo Antunes parece-me muito importante", disse.

E se os textos daquele "imenso escritor" foram material de trabalho natural para Pierre-Etienne, também a revolução de 1974 é especial para estas duas companhias teatrais descentralizadas.

"Queremos celebrar o teatro que a liberdade tornou possível porque, se não tivesse havido o 25 de Abril, não haveria hoje em Portugal um conjunto de projetos teatrais como o do Cendrev e o da ACTA", salientou José Russo.

Perante os "momentos muito difíceis" vividos na área da cultura, pois, os financiamentos do Estado "são ridiculamente reduzidos", a peça é ainda "um grito contra esta situação" e ganha mais "significado" nos 40 anos do 25 de Abril, frisou Russo.

Em fase de ensaios em Évora, a peça estreia no centenário Teatro Garcia de Resende, na cidade alentejana, na quinta-feira, Dia Mundial do Teatro, com o público a beneficiar de entrada gratuita.

"Autos da Revolução" fica em cena em Évora até 20 de abril e, depois, "ruma" para o Teatro Lethes, em Faro, onde vai ser apresentado a partir do dia 25 de abril e até 11 de maio, seguindo-se uma digressão pela Galiza (Espanha).

Mário Spencer, Rosário Gonzaga, Maria Marrafa, Bruno Martins, Tânia da Silva e Jorge Baião são os atores que "vestem" as personagens da história.

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