"Nós pensámos que era preciso existir um roteiro sobre a Guiné-Bissau", disse à Lusa o embaixador Francisco Henriques da Silva, sublinhando que "não há obras de referência sobre o país, há um vazio nesta matéria".
A obra intitulada, "Da Guiné Portuguesa à Guiné-Bissau -- Um Roteiro", escrita por Henriques da Silva e Mário Beja Santos, recupera cinco séculos de história do país, desde o período colonial português até o pós-independência.
Para o diplomata, já reformado, o livro pretende dar um panorama geral da Guiné-Bissau durante os períodos abordados e indicar ainda aos leitores leituras sobre os diversos assuntos tratados.
De acordo com o autor, o enquadramento histórico "ocupa dois terços do livro", sublinhando ainda que abordam "temas como a literatura, as principais personagens guineenses, a política de cooperação, a economia, os povos e a língua portuguesa na Guiné-Bissau".
"O livro tem um limite temporal, que é o dia 12 de abril de 2012, data do mais recente golpe militar no país (que depôs o Presidente interino, Raimundo Pereira, e o primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior)", explicou o embaixador.
O autor do livro disse que trataram as questões de forma geral, tentando não tomar partidos, "apesar de ser muito difícil, quase impossível", sobretudo "devido à situação em que se encontra o país".
"Nós dizemos que o país soube conduzir a guerra (de independência), mas o problema é que não soube gerir a paz", sublinhou, acrescentando que faltavam quadros, executivos, pessoas qualificadas e, além disso, vieram ao de cima vários problemas, como as questões étnicas (entre balantas, fulas e outras etnias) e as lutas entre os militares.
Francisco Henriques da Silva disse que o livro surge também do conhecimento dos autores como combatentes da guerra colonial, pela sua experiência como diplomata e pelas investigações que Mário Beja Santos faz há anos sobre o país.
"Eu fui embaixador de Portugal na Guiné-Bissau num período muito conturbado, entre 1997 e 1999, no período em que ocorreu a guerra civil", sublinhou.
Depois de sucessivos golpes de Estado, a guerra civil na Guiné-Bissau foi desencadeada, em junho 1998, por um golpe contra o Presidente João Bernardo Vieira (assassinado em 2009, noutro golpe de Estado), liderado pelo brigadeiro Ansumane Mané e que só terminou em maio de 1999.
"Num país pobre, há sempre alguém que se tenta aproveitar da situação e daí surgem casos graves de subornos nas forças armadas, casos graves de suborno e corrupção nas forças políticas e, inevitavelmente, aparecem outros fenómenos, como o narcotráfico", disse.
Para o autor, os sucessivos golpes no país desde a independência provocam "uma instabilidade muito grande, afastando também empresários, pessoas que podiam cooperar, colaborar com a Guiné-Bissau", sublinhando que o futuro do país "está nas mãos dos próprios guineenses".
"Falei recentemente com pessoas na Guiné-Bissau e disseram-me que não sabem o que vai acontecer", afirmou o escritor, lembrando que as eleições gerais no país estão marcadas para 13 de abril.
O diplomata já lançou um livro que aborda o período da guerra civil, intitulado "Crónicas dos (Des)feitos da Guiné", em 2012.
O coautor Mário Beja Santos, também especialista em direito do consumidor, tem outras obras sobre a Guiné-Bissau: "Diário da Guiné (1968-1969) -- Na Terra dos Soncó", "Diário da Guiné (1969-1970) -- O Tigre Vadio, Mulher Grande" e "A Viagem do Tangomau".
O livro "Da Guiné Portuguesa à Guiné-Bissau -- Um Roteiro" será apresentado por Julião Soares Sousa, guineense e professor da Universidade de Coimbra, e por Eduardo Costa Dias, docente no ISCTE, no Palácio da Independência, em Lisboa.