"Na contramão daqueles que defendem que o teatro é a parte menos significativa da obra do poeta, acredito que a produção dramática de Camões é resultado do grande artista que ele foi", observou o organizador, que é ligado ao grupo de estudos em literatura portuguesa da Universidade Federal Fluminense (UFF).
A ideia, conforme explicou Muniz à agência Lusa, era fazer uma versão mais "moderna" dos textos para um leitor brasileiro contemporâneo que não seja especialista, tendo em vista que a única versão dos autos, editada em Portugal, é uma versão crítica, voltada para os estudiosos.
"Tentei modernizar algo para o português brasileiro contemporâneo [a grafia das palavras mais arcaicas] e adendando notas de rodapé, pensando no tipo de informação que o leitor brasileiro precisaria ter para ter acesso ao texto", explicou.
Para evitar um grande número de notas de pé da página, no entanto, o organizador optou por criar um glossário ao final do livro, com a explicação de termos hoje pouco utilizados e que podem gerar dúvidas ao leitor menos habituado.
Os três autos camonianos contam ainda com uma introdução feita por Muniz, que "situa" as suas obras dramaturgas no contexto da produção para o teatro português no século XVI, mostrando como suas obras dialogam com seus contemporâneos, como Gil Vicente, Antônio Ribeiro Chiado e Jorge Ferreira de Vasconcelos.
"Percebe-se uma grande consciência camoniana como autor de teatro, ele [Camões] conhecia a técnica da construção de persoangem, da cênica. A estrutura da trama não é a de um poeta que escreveu, por acaso, teatro, percebe-se calaramente um dramaturgo", defendeu.
O livro, que revela a versão dramaturga do poeta português, foi lançado hoje à tarde no Real Gabinete de Leitura, no Rio de Janeiro, com edição da editora "Oficina Raquel", que dedica especial atenção à literatura portuguesa, incluindo no seu catálogo diversos autores de Portugal.