"Estou sob efeito de um gigantesco embaraço", afirmou, muito aplaudida, confessando a "incapacidade de dizer" o quanto se sentia "submergida por tudo" o que tinha sido dito.
Lídia Jorge, que está a ser homenageada, há vários dias, pelo festival literário de Penafiel, falava perante dezenas de pessoas que assistiam à primeira conferência sobre a vida e obra da romancista, um dos pontos principais do programa desta edição do festival Escritaria.
"Não tenho palavras. O meu reconhecimento por estar a ouvir tantas palavras sobre a minha pessoa", acrescentou, dirigindo-se ao público e aos conferencistas.
Ao longo de cerca de duas horas, vários convidados ligados ao mundo da literatura, entre os quais Inês Pedrosa, Patrícia Reis, António Carlos Cortês, Fernando Pinto do Amaral e José Fanha, elogiaram a obra da romancista.
O painel foi moderado pelo jornalista José Carlos Vasconcelos, para quem Lídia Jorge é "uma grande escritora, uma cidadã exemplar, atenta à sociedade".
A romancista Patrícia Reis disse que Lídia Jorge "escreve arriscando sempre um pouco mais, ajudando a compreender a história do nosso tempo, com hiperconsciência coletiva".
"O caso de Lídia Jorge é um caso feliz", observou, elogiando a sua capacidade de "escutar com atenção, até compreender tudo o que queremos transmitir".
António Carlos Cortês, poeta a crítico de poesia, considerou que "a prosa de Lídia Jorge [se] aproxima da poesia".
"Não consta que Lídia Jorge tenha publicado poesia, mas é óbvio que a sua prosa tem uma alta carga poética", evidenciou.
Para Fernando Pinto do Amaral, poeta e ficcionista, Lídia Jorge "ainda é daqueles autores que acreditam num poder mágico das palavras".
O ficcionista chamou à atenção para o facto de a escrita da Lídia Jorge ir "em contracorrente [em relação a] alguns escritores mais jovens, que têm uma atitude mais cínica e destrutiva".
Inês Pedrosa, jornalista e ficcionista, defendeu que a notoriedade de Lídia Jorge tem sido prejudicada pelo "estigma de discriminação de género", que "desvaloriza as obras dos escritores do sexo feminino".
"Os prémios literários são esmagadoramente atribuídos a escritores homens", criticou.
Inês Pedrosa recordou que a romancista homenageada "atravessou os seus desertos, mas nunca desistiu".
"A pulsão da sua escrita foi sempre superior", acentuou, elogiando "o dom muito pouco frequente, de criar personagens inesquecíveis, densas e irrequietas".
O poeta e guionista José Fanha, por seu turno, considerou que a escritora é uma "mulher que, pela sua escrita e presença física, afirma, de forma elegante e incisiva, o compromisso com o tempo, com a literatura e com o espírito coletivo da nação".
Para a ficcionista Maria Manuela Viana, "a magia da literatura de Lídia Jorge é nunca desistir".
No final da conferência, emocionada, Lídia Jorge deixou uma mensagem aos presentes.
"Tenho a ideia que tenho uma coisa na mão e possivelmente não é nada. Aquilo que eu, se calhar, vos venho dar aqui é nada. Mas, mesmo assim, eu abro a minha mão e digo: tomem, é tudo o que eu tenho para dar".
O novo livro da escritora, "O organista", será apresentado esta noite, pelo padre Anselmo Borges, no Museu Municipal de Penafiel.