Historiador destaca importância de Leiria nos Descobrimentos

O historiador Saul António Gomes destacou hoje a importância da judiaria de Leiria, onde, no século XV, foi impresso o "Almanach Perpetuum", obra que "guiou" os navegadores portugueses nos Descobrimentos, e defendeu a valorização da herança judaica da cidade.

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Lusa
28/12/2014 10:40 ‧ 28/12/2014 por Lusa

Cultura

Judiaria

"A cidade de Leiria projeta-se no mundo por alguns acontecimentos de história judaica que decorreram aqui, entre eles as edições tipográficas da família Orta", afirmou à agência Lusa Saul António Gomes, explicando que o livro de Abraão Zacuto, de matemática e astronomia, foi "impresso pela primeira vez em Leiria", cidade que fica "indelevelmente associada à história das ciências e à história das navegações e dos Descobrimentos portugueses".

Para o historiador, "é muito provável" que o livro "tivesse servido às mais famosas navegações portuguesas, como seja a descoberta do caminho marítimo para a Índia que Vasco da Gama realizou ou depois outros grandes navegadores que voltaram a essa rota, como seja o Pedro Álvares Cabral e muitos outros depois disso".

A tipografia ocupou uma de três casas no gaveto do edifício conhecido como Orfeão Velho, no centro histórico de Leiria, que o município quer recriar no âmbito do projeto de instalação de um Centro de Diálogo Interculturas na Igreja da Misericórdia, construída sobre uma sinagoga, para potenciar também o turismo judaico.

Segundo Saul António Gomes, em Leiria, "no ponto máximo da presença judaica, ou seja, nos finais da Idade Média", pode falar-se de "algumas dezenas a uma centena de famílias judaicas instaladas na cidade", o que "faz uma grande comunidade judaica para o Portugal dos finais da Idade Média".

"Era uma judiaria próspera, com uma importantíssima vida económica, muito laboriosa no domínio das atividades artesanais" são outros dos atributos que o docente da Faculdade de Letras de Coimbra reconhece à comuna, que tinha "alguns físicos ou médicos na época cujos serviços eram muito requisitados pela população cristã".

A este propósito, o autor de vários estudos sobre a história judaica em Portugal relata um pedido dos representantes da cidade ao rei D. Afonso V para que autorizasse que a casa de um dos mestres físicos de Leiria "pudesse ter uma porta aberta para a cristandade", porque por vezes "era preciso chamar-se um físico ou um médico, sobretudo durante a noite", quando "não era possível entrar na judiaria porque as portas da comunidade estavam fechadas".

Porém, ressalvou, "a história judaica e a presença da tradição judaica não é apenas nos tempos medievais, vai até ao nosso tempo, muito embora haja áreas de estudo que ainda devem ser verificadas, nomeadamente tentar conhecer as origens genéticas da população leiriense".

"Há alguns vultos na história da cultura da cidade que são obviamente associados a esse património genético", sendo o "mais conhecido de todos" o poeta Francisco Rodrigues Lobo, referiu Saul António Gomes.

Face à importância deste legado, o historiador diz ser necessária investigação, de arquivo e arqueológica, mas também "saber valorizar este património e esta herança de um ponto de vista educativo para que o passado da cidade traga ao presente alguma pedagogia no sentido da convivência entre povos e da construção de uma humanidade mais pacífica e mais compreensiva de si mesma".

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