Máscaras devolvem Entrudo a aldeias da Serra da Lousã

Um velho cortiço, que albergou milhares de abelhas durante anos, pode ser máscara por um dia na corrida do Entrudo da Serra da Lousã, que se realiza no dia 15, domingo, em aldeias do concelho de Góis.

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Lusa
08/02/2015 08:00 ‧ 08/02/2015 por Lusa

Cultura

Celebração

Na sua casa de xisto da Aigra Nova, Manuel Claro, de 68 anos, molda uma máscara como se estivesse a produzir os cortiços tradicionais que preserva no seu apiário.

A banca de trabalho, as ferramentas e a matéria-prima servem para os dois fins.

Com as folias da juventude na memória, o agora reformado explicou, um dia, a Jorge Lucas que "um cortiço velho podia servir de máscara", recorda o coordenador do Entrudo da Lousitânea -- Liga de Amigos da Serra da Lousã, com sede naquela povoação, no distrito de Coimbra.

Desta vez, Manuel Claro optou por fazer de raiz a obra de cortiça que ocultará o próprio rosto na corrida do Entrudo.

"Fazer o cortiço é mais difícil do que fazer a máscara. O cortiço é para durar anos, já a máscara é só para aquele dia", afirma à agência Lusa o antigo técnico de telecomunicações, enquanto talha a casca de sobreiro com desenvoltura.

Na sua opinião, "quem souber trabalhar a cortiça, sabe as voltas que lhe dar" para obter também o diabólico adereço de Carnaval.

Chova ou faça sol, povoações serranas em redor serão visitadas no dia 15 pela nona corrida do Entrudo, sendo esperados mais de 100 mascarados de todas as idades.

"Começámos há oito anos, por brincadeira, e temos conseguido que participem pessoas de fora, mesmo não tendo nada a ver com esta comunidade", regozija-se o presidente da Lousitânea, Paulo Silva.

Recriar o Entrudo local da forma "mais genuína possível" é o principal objetivo da organização, que visa ainda "valorizar o património cultural da Serra da Lousã", adianta.

Só que, segundo Paulo Silva, "a realidade já não é a mesma" e torna-se "muito difícil estar a fazer o que era antigamente", pois as aldeias "não têm o mesmo nível populacional" que tinham há 50 anos.

"O objetivo é que cada folião seja criativo e construa a sua máscara. É essencial confundir as pessoas a quem estamos a cantar as quadras jocosas ou a fazer as patifarias", sublinha Jorge Lucas.

Nos anos 80 do século XX, numa visita ao Candal, no concelho da Lousã, um idoso disse a Lucas que "até cascas de árvores serviam para fazer máscaras", tendo a cortiça a vantagem de ser facilmente moldada.

"E a própria máscara das abelhas", usada nos trabalhos apícolas, "servia para ocultar a cara" no passado, acrescenta o coordenador da corrida do Entrudo.

Enquanto faz os olhos e coloca uns cornos de cabrito na sua máscara nova, o artesão Manuel, citando um adágio popular, vinca que "no Entrudo, vale tudo". Mas a tradição já não como era.

"A verdade é que há pessoas que levam a mal" algumas brincadeiras, ao passo que outras acabam por dançar com os foliões, que soltam ao vento versos satíricos através de funis ou cabaças cortadas, conta Jorge Lucas.

Em tom brincalhão, Manuel Claro canta uma dessas quadras: "As meninas desta terra / Só algumas, não são todas / Calçam dez pares de meias / P'ra fazer as pernas gordas".

"Sai à rua aquilo que durante todo o ano os habitantes não querem que se saiba", observa Rita Ribeiro, técnica da Lousitânea, que também entra na algazarra carnavalesca.

"Nem a chuva, nem o vento nos param", sorri, ao exibir uma das máscaras que a associação vende na loja da rede Aldeias do Xisto, na Aigra Nova.

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