O projeto, lançado hoje, consiste num levantamento etnográfico da gastronomia portuguesa e, em paralelo, num "olhar" contemporâneo de algumas dessas receitas, por chefs nacionais.
A iniciativa que "une" o realizador Tiago Pereira e o Esporão, empresa alentejana produtora de vinhos e azeites (Reguengos de Monsaraz), disponibiliza, já a partir deste mês, diversos conteúdos de vídeo no Youtube e na rede social Facebook, todos legendados em inglês.
Ao longo de 15 meses, vai ser apresentado um episódio por mês, composto por um vídeo com um chef convidado (que vai usar azeite e vinho do Esporão) e vídeos extra que mostram como se fazem diversos pratos, com habitantes das diversas regiões de Portugal, ilhas incluídas.
O objetivo, salientaram hoje à agência Lusa os promotores, é "mostrar a diversidade menos visível da gastronomia portuguesa e das suas raízes" e contribuir para contrariar o efémero subjacente às práticas culturais baseadas na tradição oral.
"Tudo aquilo que é da tradição oral enfrenta um risco contra o tempo de desaparecer e estas receitas, que passam de geração em geração por via oral, são um património que, qualquer dia, se vai perder", pelo que "achámos que era importante fazer este projeto", frisou à agência Lusa o realizador.
A partir da sua experiência em 'A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria' e em 'a Dança Portuguesa a Gostar Dela Própria', em que percorre o país a recolher e a gravar músicas e danças populares e tradicionais, Tiago Pereira quer agora abranger também a gastronomia.
"É um enriquecimento deste levantamento porque, normalmente, quando é que se canta e dança na rua? Em celebração. E quando se está em celebração, come-se e bebe-se. Portanto, quando se faz a celebração popular do país, não nos podemos esquecer nem da dança, nem da música, nem da comida", argumentou.
O primeiro episódio de 'A Comida Portuguesa a Gostar Dela Própria', respeitante a novembro, inclui seis vídeos, já disponibilizados na Internet.
André Magalhães, conselheiro gastronómico de todo o projeto, é o primeiro chef convidado, num vídeo em que recria uma cataplana de litão (tubarão pequeno seco) da Ria Formosa, no Algarve.
"O vídeo tem um pescador de Olhão, que explica toda a história em torno do litão, como se prepara e se seca, como se faz a caldeirada. Depois, o André Magalhães faz a sua interpretação desse prato, uma cataplana de litão em que ele introduz algas da Ria Formosa", precisou o realizador.
Os outros vídeos deste mês mostram como se confeciona o bucho doce (Monção), a vila de amêijoas (Olhão), o torricado (Azambuja), a sopa de ossos da suã e o javali guisado.
A "fórmula" vai repetir-se nos meses seguintes, salientou Tiago Pereira. A ideia é que esta autêntica biblioteca digital da gastronomia portuguesa inclua 15 pratos confecionados por chefs e muitas outras receitas do país, que "continuam vivas".
"Não é só famoso quem sai nas revistas. Estas pessoas que continuam hoje a fazer as receitas que já vinham da bisavó e da trisavó, exatamente como elas as faziam, também são famosas, não chegam é a toda a gente", elogiou o realizador, apostado em valorizar e em tornar mais conhecidos estes "guardiões" da gastronomia portuguesa.