Intitulado “São Vicente” (1520-1530), o quadro de Frei Carlos, pintor monge de origem flamenga que viveu em vários conventos em Portugal, faz parte da coleção do Metropolitan e já se encontra em Lisboa, revelou à agência Lusa José Alberto Seabra, diretor adjunto do MNAA.
Nunca exposto em Portugal, o painel, com cerca de 160 centímetros de altura por 53 de largura, representa São Vicente com vestes de diácono, segurando nas mãos alguns símbolos associados: um livro, uma folha de palma e uma barca.
José Alberto Seabra destacou a importância desta cedência da obra pelo museu norte-americano, pelo facto da pintura ser apresentada pela primeira vez no país, e porque ficará em depósito no MNAA.
“No âmbito de um acordo especial, a tela continuará em depósito no museu por dois anos, com possibilidade de renovação", indicou à Lusa.
O especialista sublinhou que o MNAA é o museu que possui mais obras deste artista - cerca de 30 - e esta pintura irá ficar exposta na próxima exposição permanente, em preparação.
A vinda do "São Vicente" insere-se numa política de parcerias entre o MNAA e museus de outros países, aos quais o museu nacional também está a emprestar obras do próprio acervo.
Nesta parceria com o Metropolitan, o MNAA vai emprestar por alguns meses um tríptico de grandes dimensões pintado por Pieter Coecke van Aelst (1502-1550), artista flamengo a quem o museu em Nova Iorque vai dedicar uma exposição em 2014.
"O tríptico está neste momento a ser alvo de um restauro em Lisboa", indicou o responsável, acrescentando que o intercâmbio com o Metropolitan recebeu o poio da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD).
"São Vicente" irá ficar exposto no MNAA numa primeira fase, entre 28 de junho e 15 de setembro.
Sobre a história do quadro pintado em Portugal por Frei Carlos no século XVI, e de como terá ido parar ao acervo do Metropolitan, José Alberto Seabra disse que apenas se sabe que nos anos 1950 foi doado por uma cidadã norte-americana.
"Nos anos 1960, um conservador que estava a recatalogar o acervo do Metropolitan, reparou nesta pintura e mandou uma carta a um especialista português de pintura antiga [Luís Reis-Santos], que atribuiu a autoria a Frei Carlos sem qualquer dúvida", relatou à Lusa o diretor-adjunto do MNAA.
Há registos que o frade de origem flamenga entrou, em 1517, como freire da Ordem de São Jerónimo no Convento do Espinheiro, perto de Évora, notabilizando-se depois como pintor de retábulos e de outras obras de caráter devocional.
Nas primeiras décadas do século XVI, Frei Carlos viria a tornar-se numa das mais importantes figuras da pintura retabular peninsular.
A par de Francisco Henriques, e do pintor conhecido por mestre da Lourinhã, Frei Carlos é considerado um dos mais importantes pintores flamengos da pintura quinhentista em Portugal.