Jorge Serrano, 56 anos, é um "veterano" das peregrinações ao santuário da Cova de Iria, onde já se deslocou 14 vezes, quase sempre a pé "por várias razões", incluindo nestas o pagamento de promessas relacionadas com o clube lisboeta.
"[Vim] para agradecer as vitórias ao longo desta época e farei muito gosto em vir novamente a Fátima, em outubro, se o Benfica conseguir mais estas duas taças que faltam [Liga Europa e Taça de Portugal]. Faço votos e tenho fé que sim, tenho muita fé", disse Jorge Serrano à agência Lusa.
Em 2010, no penúltimo campeonato nacional de futebol ganho pelo Benfica, o peregrino cumpriu os cerca de 150 quilómetros entre a localidade de Palhota, Pinhal Novo, distrito de Setúbal, onde reside, e a Cova de Iria, depois de ter feito, no peito, uma tatuagem de Nossa Senhora de Fátima.
"Fiz a tatuagem do lado do meu coração, que é o lado do Benfica", explicou, enquanto tirava, por momentos, a camisola do clube para mostrar a imagem.
Na mesma altura, cumpriu várias centenas de metros, no recinto do santuário, de joelhos, "com 22 velas, das mais altas", que simbolizavam a equipa de futebol.
Desta vez, Jorge Serrano chegou a Fátima na companhia da mulher, também benfiquista, de duas amigas adeptas do FC Porto e uma sportinguista: "Mas somos todos unidos,porque a fé é que nos faz vir cá", alegou.
Da zona de Penafiel, Augusto Mendes, 52 anos, também conduziu familiares até Fátima e, embora habitualmente não misture religião com futebol, acabou por "pedir qualquer coisinha" para quarta-feira, data da final com o Sevilha.
"E volto em outubro se correr bem", gracejou.
No centro da Cova de Iria, rodeado de lojas de recordações e artigos religiosos, está o restaurante "O Benfiquista", há 20 anos propriedade de Rui La Feria e ponto de encontro de adeptos do clube, peregrinos ou não.
"Ainda no domingo tive aqui uma excursão de bicicletas da Casa do Benfica da Nazaré, fizeram uma promessa e vieram todos. De Coimbra vieram a pé também pagar promessas, vieram todos agradecer o Benfica ter ganho [o campeonato] e agora se ganhar a [antiga] Taça UEFA [atual Liga Europa] ainda vai ser melhor", declarou.
Embora assumindo-se crente e religioso, Rui garante que não mistura o futebol com o culto de Fátima, preferindo outras formas de celebração: "Quando o Benfica ganhou o campeonato, pintei o cabelo de vermelho. Agora, se ganhar a Liga Europa, rapo-o", frisou.
No restaurante predomina o vermelho, cachecóis pendurados no teto, uma imagem de Eusébio estampada num vidro e uma ementa com pratos alusivos a jogadores do clube da Luz mas também a emblemas adversários.
No menu, há "Lulas à Juventus" - alusão aos italianos derrotados pelo Benfica na meia-final da Liga Europa - bacalhau à Luisão, lombo à Gaitan ou filetes à Markovic, mas também frango à Leão e uma sobremesa Pinto da Costa.
"É baba de camelo", explicou Rui La Feria, argumentando que a brincadeira não afasta clientes do FC Porto ou Sporting, que "gostam e apoiam" a ementa "benfiquista" do restaurante.