Alvalade é o local onde todas as atenções vão estar centradas este sábado. Neste espaço, adeptos vestidos de verde e branco ou de encarnado vão dar tudo de si para puxar pela respetiva equipa. As claques terão ensaiadas coreografias, tarjas, gritos e cânticos... Tudo em prol de um amor único, que só os próprios entendem.
No entanto, quando falamos em claques, muitos são os estereótipos relativos à violência e confrontos. Recordando um dos episódios mais negros da história do futebol português, que remonta a 1996, vamos contar histórias de sentimentos pouco explicáveis. Comecemos.
Rui Mendes, adepto do Sporting, faleceu aos 36 anos depois de ter sido atingido por um 'very light', este atirado, em plena festa do futebol, por um adepto do Benfica, afeto à claque 'No Name Boys'. Esta história, não manchou uma claque... não manchou um clube... manchou, sim, o futebol português.
Contudo, esta é uma imagem negativa sobre os grupos organizados de adeptos, que não deve ser generalizada. Porquê? Porque, retrocedendo ainda mais no tempo, a 14 de setembro de 1994, ao jogo do Benfica contra o Hadjuk Split, na Croácia, chegamos a um episódio singular na vida do Benfica, ou, melhor, dos seus adeptos.
No regresso a Lisboa, Gullit (um dos líderes dos No Name Boys), Tino e Rita tiveram um acidente, em Espanha, e acabaram por falecer. O Desporto ao Minuto chegou à fala com um antigo elemento da claque dos No Name Boys, que nos explicou melhor o que aconteceu.
“A faixa 'Sempre presentes', exibida no Estádio da Luz, deve-se a eles. Fez-se uma das homenagens mais bonitas que algum dia foi vista nos No Name (NN). Os três carros funerários juntaram-se, ainda à porta do antigo estádio da Luz e deram a volta ao estádio. Foram distribuídas também umas t-shirts pretas dos No Name em homenagem a eles. Foi um dos momentos mais marcantes para mim”, revelou o adepto, que preferiu não ser identificado.
“A família do Gullit era pouco abastada e não tinha recursos para pagar o funeral. Acabámos por ser nós, os NN, a pagar em conjunto o funeral dele”, contou ainda.
Mas este não é episódio único. Recentemente ocorreu também um caso mediático, que começou mal, mas terminou com final feliz. Uma situação demonstrativa de que as claques podem marcar a diferença pela positiva. Um menino portista, de sete anos, e que está preso a uma cadeira de rodas para conseguir movimentar-se, viu uma camisola oferecida pelo guarda-redes Gudiño ser-lhe roubada por adeptos, alegadamente, do Benfica, depois de um jogo entre as formações B, de ‘águias’ e dragões’, no início de fevereiro, em Inglaterra.
Depois de a mãe denunciar o caso nas redes sociais, tanto FC Porto como Benfica repudiaram a atitude. Mas o gesto mais bonito estava ainda por revelar-se e pertenceu mesmo aos Super Dragões. A claque do FC Porto decidiu então recompensar a criança pelo erro do 'adversário' e convidaram Leonardo a assistir ao jogo do FC Porto frente ao Borussia Dortmund, no Estádio do Dragão. O menino acabou por vir e foi recebido no aeroporto Francisco Sá Carneiro por alguns elementos da claque.
“A tomada de decisão dos Super Dragões foi extremamente positiva, ainda para mais, perto de um jogo que iria existir entre o Benfica e o FC Porto [n.d.r.: Este jogo seria entre as equipas A dos dois clubes]. Houve um entendimento muito bom no sentido de resolver rapidamente um problema que podia ser bem mais complicado”, comentou Jorge Silvério, antigo provedor do adepto e psicólogo do Desporto, em declarações ao nosso site.
Apesar de no calor das emoções, e quem já viveu um jogo a sério, onde os títulos e os pontos contam a dobrar, existam sempre erros cometidos, próprios do comportamento em massa, no fim de cada encontro o que deve sobejar é a festa do encontro de vontades contrárias e a ombridade de saber que lutamos todos com as mesmas armas, pelo mesmo objetivo: o amor ao 'desporto-rei'.
Veja a segunda parte do trabalho aqui. Perceba o trabalho desenvolvido pela polícia nos jogos entre candidatos ao título.