Especialista em globalização e professor de Economia Política de Harvard e Princeton, o economista turco Dani Rodrik contestou, em entrevista ao Jornal de Negócios, “a estratégia” que está a ser “seguida” pelos líderes da Zona Euro, nomeadamente por ter reavivado “antagonismos”.
“Se a Zona Euro continuar a existir, temos de imaginar uma comunidade política europeia que una estas nações e que se veja a partilhar um destino comum, em vez de membros de vários grupos nacionais, com ideias sobre ‘alemães trabalhadores’ e ‘gregos preguiçosos’”, salienta Rodrik, que se deslocou a Lisboa na passada semana para participar no Fórum ‘Portugal Europeu’.
Na opinião do economista turco “há dois perigos” no facto de a resolução da crise estar nas mãos de responsáveis não eleitos pelos próprios países, nomeadamente o Banco Central Europeu. “Por um lado, um perigo para a democracia” porque “quanto mais as pessoas sentirem que os mecanismos de controlo da economia e do mercado lhes foram retirados, menos se sentirão parte do sistema, menos legítimos serão os resultados económicos e mais distantes parecerão”.
Além disso, acrescenta, “os tecnocratas nem sempre tomam as melhores decisões”, por isso, sustenta, os “temas de política económica não podem ser, simplesmente, deixados nas mãos de tecnocratas independentes.”
Mais concretamente sobre a situação portuguesa, e reconhecendo que “apenas podemos falar de probabilidades”, Dani Rodrik sublinha que tendo em conta “o actual caminho, vejo a economia portuguesa ser arrastada por um período muito, muito longo de desemprego elevado e procura baixa”.
Neste sentido, afirma: “se Portugal saísse da Zona Euro, os efeitos imediatos seriam muito duros, mas com hipóteses de uma recuperação num ou dois anos. Saber se o país quer ir numa direcção ou na outra, é uma decisão política. Mas quanto mais tempo ficarmos neste pântano, mais forte será o argumento para sair.”
“Depois de um ano, se os países com moeda própria estiverem bem e o investimento estiver a recuperar, os mercados financeiros não vão levar a mal terem saído da Zona Euro e terem instituído controlos de capital. Os mercados adoram um país com boa performance, não querem saber como chegou lá,” salienta.