"Numa altura em que nós estamos na véspera de apresentar o Orçamento do Estado para 2014, que traduz o conjunto dos compromissos que assumimos com os nossos credores oficiais no sentido de corrigir ainda a consolidação orçamental, acentuando a trajetória de uma despesa primária mais consentânea com a sustentabilidade da dívida ,é evidente que a execução das medidas que então ficaram previstas pode, novamente, gerar um choque de expectativas", afirmou Passos Coelho.
O chefe de Governo falava no congresso nacional dos economistas, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
"Nestes últimos dias, medidas que estavam previstas e descontadas há vários meses, como seja a necessidade de proceder ainda a um ajustamento dos salários do setor público através de uma tabela remuneratória única, bem como de garantir a convergência das pensões da Caixa Geral de Aposentações com o regime geral da Segurança Social, foram apresentados no espaço público de uma forma que contrai as expectativas da generalidade dos agentes, em vez de recentrar essas expectativas", declarou.
Passos Coelho defendeu que a forma como decorre o "debate público" pode "ser muito importante para não criar um choque de expectativas demasiado punitivo que comprometeria injustamente e desproporcionadamente os méritos e o sucesso do programa".
O primeiro-ministro referiu-se aos outros processos de ajustamento que Portugal sofreu e que tinham sido abordados numa intervenção anterior do governador do Banco de Portugal, Carlos Costa.
O chefe do Governo sublinhou que as políticas públicas atualmente não podem beneficiar da "ilusão monetária", a possibilidade de desvalorizar moeda nacional que a adesão ao euro inviabilizou.
"As políticas, no entanto, sendo mais difíceis, não são menos necessárias, e traduzindo a verdade do ajustamento, tornam-se por isso mais difíceis, mas mais verdadeiras. Se os ajustamentos tivessem sido mais verdadeiros no passado, não teríamos tido necessidade de produzi-los no futuro", sustentou.
O primeiro-ministro defendeu que "um dos primeiros benefícios" do processo atual "é tornar a sociedade portuguesa mais resiliente aos processos de ajustamento que se ficam pela meia verdade".
"Por outro lado, nós sabemos que se torna evidentemente mais complexo que uma expectativa positiva seja mobilizada junto do mercado. Isso é crítico para o futuro. Sabemos muitíssimo bem, na composição recessiva que enfrentámos em 2012, a influência que as expectativas desempenharam", afirmou.
Uma das consequências, apontou, foi a "evolução da poupança", indicador que, disse, "traduz fielmente o resultado do choque de expectativas".
"Isso não é, em termos estruturais, negativo, pelo contrário, o país precisa de maior poupança para lançar um maior investimento para futuro", afirmou.