“No período mais recente, em 2011 e 2012, observou-se um aumento da fracção dos trabalhadores com reduções de remuneração, que ascendeu a 22,2 e 23%, respectivamente [em cada ano]”. A conclusão é do Banco de Portugal (BdP) que para tal recorreu à base de dados de remunerações da Segurança Social, ou seja, que não tem em conta a maioria dos funcionários públicos.
De acordo com o BdP, “39,4% [destes trabalhadores] teve pelo menos uma variação negativa” no salário. O que se traduz num “impacto negativo na produtividade” que, na prática, representa numa perda real do poder de compra dos portugueses.
“A este ajustamento nominal em baixa”, salienta o banco central citado pelo Jornal de Negócios, “juntam-se ainda variações nominais nulas que afectaram um número elevado dos trabalhadores por conta de outrem com o mesmo empregador, que se situaram em 28,4 e 31,9% em 2011 e 2012, respectivamente.”
Além disso, e “por contraste” aos “anos 80”, período que “assentou na flexibilidade real das remunerações, num contexto de elevada inflação”, desde 2008 (início da crise) e com o “regime de baixa inflação característico da área do euro, a flexibilidade nominal domina a actual fase de ajustamento, sendo demonstrativa da capacidade de resposta dos trabalhadores e empresas do sector privado.”
Significa isto que, os portugueses que entretanto mudaram de emprego sofreram, em média, uma redução no salário de 11%. Segundo o Jornal de Negócios foram afectados cerca de 776 mil trabalhadores.
Em sentido inverso, o Fundo Monetário Internacional (FMI) refere, no boletim económico semestral ‘World Economic Outlook’, ontem divulgado, que “em Portugal, a produção diminuiu no período mais recente e o emprego continua a cair, com pouco a acontecer nos salários até há pouco tempo”, frisando que, em relação a este último ponto, os salários até tiveram um aumento acumulado de mais de 10% no sector transaccionável e mais de 5% no não transaccionável.