Começando por lembrar que “a CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa] foi fundada há 17 anos (…) fruto da vontade dos governos dos povos que falam a Língua Portuguesa”, neste momento, lê-se hoje no editorial do Jornal de Angola, “só Portugal diverge perigosamente” da aposta na “consolidação da organização”.
“E não venham desculpar-se com a situação de protectorado, porque já antes a sua cúpula tinha um comportamento que, em muitos casos, se assemelhava a relações pouco ou nada amistosas”, sublinha o texto, frisando ainda que “a crise social e económica em Portugal retirou a políticos e comentadores algum discernimento e perspicácia”.
Por isso, prossegue, “o Presidente da República de Angola, José Eduardo dos Santos, anunciou que a parceria estratégica com Portugal (…) não pode avançar nas actuais condições. Porque a cúpula portuguesa está a ser desleal em relação aos entendimentos que tem com Angola”.
“A postura actual do Estado português representa uma verdadeira agressão a Angola (...) que vem de alto a baixo, de representantes de órgãos de soberania, de políticos, deputados, magistrados, partidos políticos”, critica o editorial.
Salientando que “na democracia portuguesa”, houve um caso que envolveu “o antigo primeiro-ministro José Sócrates” e que colocou “o seu nome (…) na praça pública, com manchetes e notícias falsas”, o “mesmo Ministério Público quer [agora] fazer o mesmo a cidadãos angolanos e, todos os titulares dos órgãos de soberania de Portugal consentem isso”.
“Esta situação configura uma agressão intolerável. A cúpula em Portugal, Presidência da República, Assembleia da República, Governo, Tribunais, tem pesadas responsabilidades no actual clima de agressão a Angola, que recrudesceu nas últimas semanas e atingiu níveis inaceitáveis”, lê-se no texto que conclui que “enquanto persistir a onda de deslealdade e agressão que vem de Lisboa não são aconselháveis cimeiras”.
Neste sentido, trata-se de “um rotundo erro desvalorizar a posição tomada” por José Eduardo dos Santos porque, “com isso, estão a enganar as pessoas. Dizem cinicamente que já está tudo bem, enquanto ao mesmo tempo o Ministério Público faz mais manchetes nos jornais e são violados os entendimentos feitos com Angola”.
A juntar a tudo isto, “Portugal já não está nas grandes obras públicas, no petróleo, na transferência de tecnologias, aí estão a China e o Brasil. Portugal parece estar apenas reduzido à chantagem e à falta de respeito. Está tudo mal e a CPLP é altamente prejudicada com isso. Assim, estão a dizer adeus à lusofonia”, acusa o editorial de hoje do Jornal de Angola.