"Com certeza que o Banco de Portugal podia ter sido mais proactivo e duro perante o BPN, mas a raiz do problema está, essencialmente, no facto de ter havido um conjunto de operações de carácter irregular e ilegal levadas a cabo pelos responsáveis do banco que foram escondidas das autoridades, tornando difícil a detecção dos problemas que daí poderiam advir", afirmou o ex-ministro em entrevista à agência Lusa.
Segundo recorda Teixeira dos Santos, "o sistema de supervisão existente na altura assentava muito numa confiança da autoridade perante as instituições que supervisionava".
"Portanto, este é um sistema que, de alguma forma, tem uma fragilidade: se houver uma atitude deliberada de enganar e de esconder, as autoridades terão grandes dificuldades em detectar essas situações", disse.
Neste contexto, o ex-ministro das Finanças admite que "as autoridades poderiam ter sido sempre mais interventivas, mais duras e mais exigentes, mas reitera que "grande parte do problema radica nessa atitude de esconder, de defraudar e de enganar, escamoteando informação".
"O ambiente que se vivia na Europa e, também, em Portugal era um ambiente quase incendiário, porque uma pequena fagulha provocaria um incêndio que podia ser devastador no sistema financeiro", recordou, ainda a propósito do BPN, Fernando Teixeira dos Santos.
Com uma "memória muito viva dos tempos" então vividos, o ex-ministro das Finanças do Governo de José Sócrates - que, a 2 de Novembro de 2008, decidiu a nacionalização do BPN - descreve um "ambiente muito, muito, muito sensível, para não dizer perigoso", em torno da credibilidade do sistema bancário.
"Na altura o risco era muito sério", recorda, salientando que havia passado "pouco mais de um mês após a falência do [banco norte-americano] Lehman Brothers", pelo que a situação se assumia como "uma ocorrência de alto risco para o sistema financeiro" português.
Neste "ambiente de grande receio", o ex-ministro estava e continua convicto de que "uma falência do BPN iria gerar uma situação de pânico e de corrida aos bancos com efeitos devastadores no sistema financeiro".
É que, sustenta, embora o BPN fosse "um banco relativamente pequeno" no contexto do sistema bancário português, poderia ser "a pequena fagulha" que iria "alavancar uma grande instabilidade e grandes receios".
Todavia, acrescenta, "devo dizer que estranho que tenha sido uma alienação a um preço tão baixo (40 milhões de euros mais o direito de exigência de restituição de algumas verbas de acordo com as condições em que o banco foi alienado). Mas confesso que não tenho informação suficiente para dizer que o valor é ajustado ou não".
Ainda assim, acrescenta: "Sinceramente, na altura, quando saí do Governo, a avaliação que tínhamos apontaria para um valor mais elevado".
Para o ex-ministro, o facto de se ter chegado a um ponto em que só restava um possível comprador para o Banco Português de Negócios (BPN) "necessariamente prejudicou a posição negocial do Estado".
"Sendo claro que o Estado tinha que vender e havendo só um comprador, isto dá um grande poder ao comprador e retira poder ao Estado, o que não permitiu que o Estado pudesse vender, porventura, nas melhores condições", admite.