Em entrevista ao Diário Económico (DE), Bagão Félix diz que António Borges teve uma intervenção “inoportuna” quando chamou “completamente ignorantes” aos empresários que criticaram a proposta do Governo de mexidas na TSU.
“Respeito muito pessoal, profissional e academicamente o professor António Borges, mas, face às suas declarações, só posso dizer que faço parte dos completamente ignorantes nesta matéria da TSU”, afirma o antigo ministro das Finanças ao DE.
Para Bagão Félix, a declaração do consultor do Governo para as privatizações “foi inoportuna por três razões”. ”Primeiro, a medida já foi alterada, portanto não vale a pena insistir na questão. Segundo, embora tenha falado a título pessoal, não pode ignorar as funções públicas que tem neste momento [consultor do Executivo para as privatizações] e terceiro, o País precisa de consenso social e não de fragmentação - com o aumento do desemprego e redução do investimento, não devemos ter uma atitude paternalista, mas também não podemos ter uma atitude de confronto com os empresários”, argumentou Bagão Félix.
O antigo governante conclui que “é legítimo ter diferentes opiniões sobre a TSU”, mas “não é preciso lançar adjectivos a quem tem opiniões discordantes”.
Na mesma entrevista ao DE, Bagão Félix afirma que “convencia o Governo a desistir da Taxa Social Única em dez minutos” e considera que o recuo do Executivo nesta matéria foi uma atitude de “grande dignidade”.
O antigo governante afirma que podia ter ajudado a "prevenir um erro", se tivesse sido consultado sobre as mudanças na TSU.
Questionado sobre a manifestação deste sábado, Bagão Félix afirma que a “adesão é certamente representativa e há que ler também os sinais num momento de grande fragilidade e dificuldades”.
O responsável nota ainda que “que o Governo abusou, passou do uso ao abuso”, justificando que, em termos sociais e políticos, não houve problema algum com a sobretaxa de 3,5%, no ano passado, no Natal. “As pessoas compreenderam. Estavam dispostas a aceitar a austeridade, desde que fosse exemplar, inteligente, equitativa, desse esperança, fosse solidária e não fragmentária”, frisou Bagão Feliz, acrescentando que já a medida da TSU “quebrou o laço de tolerância”. “Até já ouvi uma expressão interessante: quebrou definitivamente o momento em que se passa da fadiga da austeridade à repulsa da austeridade. É uma questão terrível”, acrescentor.