"Portugal devia ter, com certeza, feito uma negociação atempada e mais adequada e não uma negociação à pressa, com o abismo à vista", afirmou o economista em declarações à Lusa, sublinhando não concordar nesse ponto com as afirmações de Fernando Teixeira dos Santos.
Teixeira dos santos, ministro das Finanças do Governo socialista de José Sócrates, e que negociou o pedido de ajuda à 'troika' em 2011, disse na quarta-feira que, se Portugal tivesse pedido ajuda mais cedo, estaria hoje na mesma situação em que se encontra a Grécia.
"Estou convencido que teria sido desastroso se, nessa altura, tivéssemos enveredado por um programa do tipo grego, porque ficaríamos colados à Grécia, quando penso que, apesar de tudo, a situação de Portugal não era a mesma", disse Teixeira dos Santos no programa "Contra-Corrente", na Etv, respondendo ao comissário europeu Ollin Rehn, que voltou a defender que o então ministro das Finanças deveria ter pedido o resgate em 2010.
"As declarações de Ollin Rehn foram muito claras", lembrou hoje Eduardo Catroga.
"A União Europeia aconselhou Portugal, face à derrapagem das contas públicas, do endividamento público e à falta crescente de confiança dos mercados, a negociar com tempo um programa com a 'troika'", disse, defendendo que essa negociação não devia ter sido feita "já com a bancarrota à vista, sem dinheiro em caixa dentro de um ou dois meses, com o crédito fechado nos mercados internacionais e também com a torneira fechada do Banco Central Europeu".
Para o antigo ministro do PSD, Portugal cometeu vários erros desde 2009 que impederiam que se fizesse o mesmo caminho da Irlanda, outro dos países que pediu ajuda à 'troika' constituída pela Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário internacional.
"Basta recordar que, em 2009, o Governo da época aumentou a tabela dos funcionários públicos em 2,8% do PIB e acelerou o aumento da despesa pública, que culminou num recorde histórico de 51,5% do PIB em 2010, enquanto a Irlanda reconheceu rapidamente o problema e, em 2009, fez uma redução estrutural da despesa pública a começar na redução dos salários e das pensões", disse Catroga.
"A grande diferença", considerou, "é que a Irlanda começou logo em 2009 o seu programa de ajustamento real, enquanto Portugal começou no segundo semestre de 2011".
Além disso, acrescentou o economista, "a Irlanda não teve dificuldades políticas e constitucionais para implementar uma redução estrutural da despesa pública rapidamente".
Tudo isto levou a que Portugal se atrasasse "um ano e meio" em relação à Irlanda, situação que se agravou "em mais seis meses com a crise de julho de 2013", quando o então ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros Paulo Portas, líder do partido parceiro da coligação governamental, ameaçou sair de forma "irrevogável" do executivo.