"Temos um peso da despesa - retirando todos os efeitos das medidas covid, 'one-offs', e tudo o que é financiado por fundos europeus - um rácio da despesa primária corrente no PIB que será, no final deste ano, 1,8 pontos percentuais superior ao de 2019", disse Mário Centeno na conferência de imprensa de apresentação do Boletim Económico de outubro, realizada hoje no Museu do Dinheiro, em Lisboa.
Os 1,8 pontos percentuais do Produto Interno Bruto (PIB) referidos "deverão ser absorvidos se quisermos retomar a trajetória anterior à crise, naquilo que é o peso das despesas públicas na atividade económica", defendeu o governador do BdP.
Segundo Mário Centeno, aqueles 1,8 pontos percentuais estão divididos entre salários (0,8) e prestações sociais (1).
"O peso destas duas áreas do Estado no PIB aumentou de forma muito significativa ao longo destes dois anos, 2020 e 2021, insisto, esta tendência é normal, é expectável, aconteceu em todos os países da Europa. Trata-se agora de retomar os níveis anteriores à crise", referiu o responsável.
Anteriormente, Mário Centeno já tinha salientado que "o maior esforço de endividamento, no conjunto dos anos de 2020 e 2021, é do Estado".
"O Estado respondeu com 80% do aumento da dívida em Portugal, e esta é, obviamente, uma preocupação no quadro orçamental presente", vincou.
Mário Centeno antecipou ainda ser "previsível que em 2022, com a recuperação adicional do PIB e quando a atividade económica esteja ao nível de 2019, boa parte deste hiato [da despesa] seja coberto".
"Face a uma situação em que tínhamos o saldo orçamental equilibrado, esta crise naturalmente gerou um hiato de financiamento, e esse hiato de financiamento deve, olhando para aquilo que eram as perspetivas orçamentais existentes no início de 2020, ser ponderado no futuro e deve ser ajustado", adiantou ainda.
O Banco de Portugal (BdP) manteve hoje a perspetiva de crescimento económico nos 4,8% para 2021, à semelhança do que tinha feito no Boletim Económico de junho.
De acordo com o Boletim Económico de outubro, "a economia portuguesa cresce 4,8% em 2021, aproximando-se do nível pré-pandemia no final do ano", considerando que "a recuperação da atividade reflete o controlo da pandemia, através do processo de vacinação -- com efeitos positivos na confiança dos agentes económicos -- e a manutenção de políticas económicas expansionistas".
Segundo a instituição liderada por Mário Centeno, "em 2021, a economia portuguesa continua o processo de recuperação iniciado no terceiro trimestre de 2020", considerando que "o choque pandémico revelou-se temporário, não obstante o impacto mais prolongado em alguns setores e empresas".
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