No memorando de políticas económicas e financeiras, com data de 28 de março, e que acompanha o relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre a 11.ª avaliação ao programa, o Governo indica que tem "várias opções disponíveis para promover a negociação salarial e desenvolvimentos salariais compatíveis com os fundamentos económicos" e que está a estudar essas opções em diálogo com os parceiros sociais.
Entre essas opções está uma "redução do pagamento de indemnizações por despedimentos sem justa causa", os quais iriam "ajudar a reduzir a diferença aberta com a ampla redução das compensações por justa causa".
O FMI refere que a legislação já aprovada "aumentou a diferença entre as compensações por justa causa (para 12 dias por ano de antiguidade) e sem justa causa (até 45 dias por ano de serviço)".
O Código do Trabalho prevê no seu artigo 391º que nos despedimentos sem justa ganhos pelo trabalhador em tribunal, este pode, como opção à reintegração, "optar por uma indemnização cabendo ao tribunal determinar o seu montante, entre 15 e 45 dias de retribuição base e diuturnidades por cada ano completo".
"Qualquer mudança nesta área deve criar um equilíbrio entre limitar os incentivos para contestar em tribunal os despedimentos por justa causa e penalizar adequadamente os despedimentos sem justa causa", escreve o Fundo.
Em novembro de 2013, o ministro da Solidariedade, do Emprego e da Segurança Social, Pedro Mota Soares, afirmou que o ajustamento salarial no setor privado "já foi feito" e manifestou total discordância com o FMI, que tinha já insistido numa maior flexibilização laboral em Portugal.
"Objetivamente, há uma diferença de opinião entre o Governo e o FMI na matéria do mercado laboral. O Governo português considera que o ajustamento, nomeadamente, no setor privado, já foi feito e considera que não é modelo de desenvolvimento em Portugal um modelo assente em salários baixos", disse o governante.
Outra medida apontada pelo Executivo na documentação divulgada hoje pelo FMI passa por promover os acordos coletivos, ajustando o critério atual para a extensão de um acordo coletivo tendo em conta a representatividade das pequenas e médias empresas em vários setores.
O Governo admitiu ainda que vai apresentar "opções de política" sobre a contratação coletiva, em diálogo com os parceiros sociais, adiantando que, se esta opção não for possível de implementar, vai "estudar e apresentar uma proposta sobre as suspensões temporárias dos acordos coletivos por mútuo acordo".
No relatório, a instituição liderada por Christine Lagarde considera que há ainda obstáculos persistentes que dificultam a capacidade das empresas portuguesas de captarem investimento e de serem globalmente competitivas, incluindo a rigidez no mercado de trabalho.
O Fundo refere que os custos unitários do trabalho caíram no setor privado, mas que essa queda se deveu em larga medida à recessão e não à queda dos salários, ou seja, as empresas fizeram o seu ajustamento diminuindo o número de horas de trabalho e cortando nos custos não salariais, "mas a rigidez dos salários nominais permaneceu elevada".
Para o FMI, "a flexibilidade laboral ia garantir a criação mais rápida de emprego no setor transacionável, à medida que a economia melhorasse".
A organização refere ainda que, apesar de ter sido legalmente facilitado, o despedimento de trabalhadores individuais "é, na prática, difícil", pelo que é preciso "garantir que as reformas se traduzem em mudanças efetivas".