"Vivemos na União Europeia, em que a iniciativa livre de todos os agentes e instituições não está sujeita a controlo prévio do Governo, qualquer entidade pode promover eventos em Portugal, como é o caso da Champions League, que vai ter lugar em Portugal no dia da reflexão, espero que a senhora deputada não esteja preocupada com o efeito que isso possa ter na reflexão dos portugueses", disse Passos Coelho.
O primeiro-ministro respondia à deputada e coordenadora do Bloco de Esquerda Catarina Martins, que durante o debate quinzenal com o Governo no parlamento, questionou Passos Coelho sobre o que está a ser feito pelo Governo para impedir a realização da conferência do BCE em Sintra, agendada para 25 de maio, dia das eleições europeias.
"Não estou preocupado com o efeito que pode ter sob os portugueses o facto de o BCE vir a realizar a sua reunião a Portugal, acho que até que é prestigiante para o país, mas percebo que haja partidos que considerem ofensivo que o BCE, ou qualquer outra instituição, escolham Portugal para fazer as suas reuniões", sustentou o primeiro-ministro.
Pedro Passos Coelho afirmou também que o Governo português "não se deve pronunciar ou ser consultado" sobre a conferência, tendo em conta que não é organizada pelo executivo.
"Não é uma reunião da 'troika', é a primeira reunião que o BCE vai realizar com todos os bancos nacionais da UE, reuniões desse tipo são realizadas por outros bancos centrais com a mesma realidade", acrescentou.
Em resposta, a deputada do BE disse que vão estar em Portugal todos os elementos da ´troika´, presidentes do Fundo Monetário Internacional, Comissão Europeia e BCE.
"Nada assemelha tanto o nosso país a um protetorado do que ter no dia das eleições a 'troika' a aterrar cá de malas e bagagens. Há um elemento de dignidade nacional que o senhor primeiro-ministro despreza", adiantou Catarina Martins.
A coordenadora do BE afirmou também que "o primeiro-ministro faz jogos de palavras" e "tenta não responder aos temas"
"Julgo até que julga que Cristiano Ronaldo faz parte da 'troika' e baralha futebol com uma cimeira do BCE", ironizou.
A deputada acusou ainda o Governo de aumentar impostos, salários e pensões através do Documento de Estratégia Orçamental (DEO).
"Sobre DEO, e tudo o que disse até agora é caso para dizer que mais depressa se apanha um primeiro-ministro do que um coxo", disse Catarina Martins, que fez também um balanço dos três anos em que Portugal esteve com o programa de assistência económica e financeira.
"Aquilo que fica é um país que perdeu meio milhão de postos de trabalho, é uma dívida pública que aumentou e uma dívida privada que se manteve, um desemprego galopante, uma emigração como nunca se tinha visto, somos um país com menos crianças, mas mais crianças pobres. Não há nada que nos faça sorrir quando olhamos para a sua política", afirmou ainda Catarina Martins.