"Vestir a camisola da empresa é hoje vestir um colete-de-forças"

No entender de Carvalho da Silva, as alterações introduzidas no mercado de trabalho no decorrer do programa de assistência financeira em Portugal não fizeram mais do que "retirar direitos aos trabalhadores" e "agravar as desigualdades". Em entrevista ao Notícias ao Minuto, o ex-sindicalista garantiu viver hoje num país "a caminhar para o abismo".

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Goreti Pera e Anabela de Sousa Dantas
12/05/2014 11:20 ‧ 12/05/2014 por Goreti Pera e Anabela de Sousa Dantas

Economia

Carvalho da Silva

Roubo. Vergonha. Brutalidade. Humilhação. Desigualdade. Retrocesso. São estas as palavras mais ouvidas numa conversa com Carvalho da Silva sobre as alterações introduzidas no mercado de trabalho durante o período em que Portugal foi submetido a um programa de assistência financeira.

Na opinião do antigo líder da CGTP, mais do que resgatar um país que se encontrava perto da bancarrota, o que a troika fez nos últimos três anos foi “o maior roubo organizado na sociedade portuguesa no que se refere à distribuição da riqueza produzida pelo trabalho”.

“Mais de 80% desta ação tem sido levada a cabo pelo atual Governo, mas o processo foi iniciado em 2003”, assegura o antigo líder da CGTP, para quem “a redução dos salários, férias, feriados e remuneração pelo trabalho extraordinário representaram um conjunto brutal de reduções de direitos dos trabalhadores”.

“O que antigamente era vestir a camisola da empresa é hoje vestir um colete-de-forças”, lamenta o professor, salientando os dados do Observatório sobre as Crises e Alternativas, que dão conta de que, no seguimento das alterações da legislação feitas em 2012, houve uma transferência de rendimentos do trabalho para rendimentos do capital no valor de 2,3 mil milhões de euros por ano.

Questionado pelo Notícias ao Minuto sobre o objetivo de flexibilização do mercado de trabalho, imposto no memorando de entendimento, Carvalho da Silva responde: “O trabalho não é apenas um custo mas um investimento. Qualquer empresário sério sabe que não há rigidez alguma no mercado de trabalho português. Infelizmente, os trabalhadores exercem funções, em muitas situações, sem proteção da sua dignidade”.

“Todo o dinheiro que é distribuído ao fator trabalho reentra muito mais facilmente na economia – porque dá poder de compra aos consumidores – do que aquele que é entregue aos acionistas das empresas, que entra na economia pela via especulativa, que aprisiona ainda mais a produção”, acrescenta o ex-sindicalista.

E parece não haver fim à vista, pelo menos no que depender da “agenda política”, enquanto os trabalhadores não assumirem a “luta pelos seus direitos”. Porque “não há soluções milagrosas”, concretiza.

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