"Houve uma escassez de financiamento na Europa e as grandes empresas que compravam toneladas de contentores na China tiveram de desmantelar as suas cadeias logísticas e passaram a ter necessidade de comprar o melhor possível, ao pé da porta, fazendo encomendas 'just in time' em países com capacidade de resposta", notou o diretor-geral da Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos (APICCAPS), no final de um almoço-debate organizado pela Câmara de Comércio Luso-Francesa.
Manuel Carlos acrescentou que essa capacidade de resposta flexível já tinha sido criada anteriormente pelas fábricas portuguesas de calçado, face à necessidade de reconversão criada pela abertura de fronteiras no comércio mundial.
As exportações portuguesas de calçado, que representam mais de 90 por cento da produção no setor, atingiram o máximo histórico em 2013 ao ultrapassarem 1.700 milhões de euros, lembrou. Desta forma, ultrapassaram o recorde de 2001, quando "ainda estavam em Portugal as grandes empresas internacionais de calçado", que começaram a sair do país depois da entrada da China na Organização Mundial do Comércio, nesse mesmo ano.
O dirigente da APICCAPS destacou também o investimento feito em internacionalização pelas empresas do setor, aproveitando os incentivos europeus ao abrigo do PRIME - Programa de Incentivos à Modernização da Economia, entre 2000 e 2007.
"Este é um investimento muito importante, pois marca a diferença do setor antes e depois da crise", afirmou. "O país investiu cinco por cento desses fundos europeus no processo de internacionalização, enquanto a indústria de calçado utilizou para esse fim 49% dos incentivos que recebeu", destacou.
O calçado é atualmente o produto português mais exportado para França, sendo Portugal o segundo maior fornecedor de calçado de couro ao mercado francês, a seguir aos italianos.
A França é também o principal mercado das exportações portuguesas de calçado, tendo sido o destino de 26,4 por cento em 2012. Seguem-se a Alemanha, com um peso de 18,4 por cento, e a Holanda (12,5%).