"Desta vez nem tiveram o mínimo cuidado para fazer uma nomeação claramente ideológica de gente confiança do Governo, dos seus partidos", afirmou o líder dos comunistas, que reagia ao caso BES, à margem de um encontro de militantes em Vila Pouca de Aguiar.
O Espírito Santo Financial Group (ESFG) anunciou no sábado que vai propor Vítor Bento para presidente executivo do BES e João Moreira Rato para administrador financeiro, num comunicado enviado à Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). O ESFG aponta ainda o deputado social-democrata e ex-juiz do Tribunal Constitucional, Paulo Mota Pinto, para o cargo de presidente do Conselho de Administração.
Jerónimo de Sousa disse que é "profundamente negativo para a própria democracia esta confusão e esta fusão entre os negócios e a política, particularmente do setor financeiro".
"É preocupante, até porque o nosso povo já pagou com língua de palmo as situações escandalosas, os desmandos da banca, lembrando os casos do BPN e do BPP e esperamos nós que a história não se vá repetir agora com o BES", salientou.
O líder comunista disse que quer um esclarecimento da entidade supervisora e saber o que é que o BdP andou a fazer, porque é "que esteve tão passivo durante todo este tempo" e porque é que "existem estas situações em que há necessidade de apuramento de responsabilidades".
"Com uma condição fundamental que nós colocamos. Não ponham de novo o povo português a pagar aquilo que foram os desmandos da banca, nem pensem em nacionalizar prejuízos", acrescentou.
Questionado sobre as declarações dos últimos dias que referem que a situação do banco é estável, Jerónimo de Sousa afirmou que percebe os apelos à acalmia.
"Nós não estamos aqui a inventar uma destabilização ou a inventar um caso. É sabido que há preocupações de fundo em relação à situação do BES", sustentou.
Na opinião do secretário-geral do PCP, o melhor é, "com serenidade mas com responsabilidade, fazer esse apuramento de responsabilidades, ouvir designadamente o BdP para evitar que se dê precisamente mais uma situação de descalabro".
"É essa a nossa preocupação. Não estamos aqui numa posição de alarmismo, mas numa posição de que o povo português tem o direito de saber previamente o que aconteceu e o que está a acontecer", salientou.
E quanto à reação do PS ao caso, o secretário-geral do PCP disse que espera que "não seja um pouco dor de cotovelo porque até aqui tinha havido uma certa partilha de responsabilidades e de lugares".
O líder dos socialistas, António José Seguro, defendeu no sábado uma separação entre a política e os negócios, referindo que "é mais do mesmo" que os nomes conhecidos para a administração de "um banco" sejam associados à atual maioria.
Jerónimo de Sousa juntou-se hoje, na barragem da Falperra, em Vila Pouca de Aguiar, distrito de Vila Real, ao passeio anual das mulheres comunistas do Porto.
A chuva não demoveu os muitos comunistas e simpatizantes e a música e a dança só pararam quando o secretário-geral do PCP chegou e foi recebido com grande entusiasmo.