"Se formos ver os relatórios das Nações Unidas, da Human Rights Watch, quantos países estão lá dentro? Que são avaliados e que têm violações dos direitos humanos que nunca mais acabam? Se formos ver, também os nossos estão metidos lá dentro. Os nossos países estão lá, não há nenhum que escape, dos oito, estão lá todos", disse Murade Murargy.
Em entrevista à agência Lusa a propósito da X Cimeira de chefes de Estado e de Governo da CPLP, que se realiza no próximo dia 23, em Díli, Timor-Leste, o secretário-executivo da organização considerou que as avaliações são sempre "muito relativas" e que "não é deixando a Guiné Equatorial de fora que se vão resolver os problemas de direitos humanos" naquele país.
"Nós queremos que ela se insira no nosso seio e através de estar connosco, de conviver connosco, assimilando os nossos princípios e valores, ela vai procurar mudar-se em função daquilo que nós somos também. Esse é o nosso objetivo, de moldar a própria Guiné Equatorial", disse.
A Guiné Equatorial é uma ex-colónia espanhola, um país rico em petróleo, governado desde 1979 pelo Presidente Teodoro Obiang Nguema, e é criticado pelas organizações internacionais por violações dos direitos humanos.
Murade Murargy considerou ainda que em vésperas de uma cimeira da CPLP "há sempre uma campanha forte contra a Guiné Equatorial".
Em relação à adesão deste país à CPLP, referiu que "o processo está fechado" e que "não há razão" para que a questão "continue a arrastar-se", quando já passaram dez anos desde o pedido feito pela Guiné Equatorial para se tornar membro de pleno direito da organização lusófona.
Lembrando que a decisão caberá agora aos chefes de Estado e de Governo, o moçambicano referiu, no entanto, que o Conselho de Ministros da organização já tomou a decisão, em fevereiro último, de recomendar a adesão "porque as condições que eram exigidas [à Guiné Equatorial] estavam reunidas".
O secretário-executivo disse que entre essas condições estava a moratória sobre a pena de morte, a introdução da língua portuguesa ou a criação da comissão nacional da CPLP e reconheceu "o esforço" feito pela Guiné Equatorial.
"[A Guiné Equatorial] acha que tem direito de estar connosco porque foi colonizada por Portugal 300 anos antes dos espanhóis, sente-se também isolada na região onde está e tem relações muito fortes com Angola e com São Tomé e Príncipe", disse.
Questionado sobre o interesse da CPLP em ter a Guiné Equatorial como membro de pleno direito, Murade Murargy, referiu a "vontade de influenciar" aquele país e de "difundir a própria língua" para que o português "entre noutras esferas, noutras regiões".
"A Guiné Equatorial foi quem manifestou interesse, amanhã, se for a Namíbia, também vamos analisar, a Geórgia, vamos analisar, tendo em conta todos os pressupostos que são os nossos valores e vamos analisar a pertinência ou não de entrada", disse, referindo-se a dois dos três países que pediram o estatuto de observador associado da CPLP.
Os pedidos da Namíbia, Geórgia e Turquia serão também analisados na cimeira de Díli.