“A crise no BES surpreendeu-me completamente. É uma tragédia para a economia portuguesa, pelo dano que causa à reputação do país e do sistema financeiro português. Tem uma consequência económica pesada para o país e para a economia”, afirmou o antigo governante, José Sócrates, sobre a crise vivida no seio do Grupo Espírito Santo e que levou à saída de Ricardo Salgado da liderança do BES.
E justifica o ex-primeiro-ministro as dificuldades em compreender o sucedido, dizendo que estando cá a troika e Portugal sujeito a um controlo tão apertado que não compreende como como é que este problema não foi conhecido mais sedo. “Nestes últimos três anos tivemos a troika, auditorias, testes de stress, a ajuda do BCE para melhorar e qualificar o sistema bancário europeu e no fim acontece isto”, afirma o comentador da RTP.
Sobre este ponto, defende Sócrates que deverá, no futuro, pensar-se em novas formas de supervisão financeira, aprendendo com os casos do passado, como, exemplifica, a crise de 2008, provocada pela descoberta de offshores que fizeram colapsar o sistema financeiro.
“Se há moral a tirar disto é que o dogma de que o mercado faz tudo bem é um mito. A desregulação no sistema financeiro conduziu a casos como o BES e coloca questões relacionadas com a supervisão nacional. A supervisão financeira deve ser feita a uma escala internacional. Ainda não aprendemos a lição de 2008”, disse o antigo primeiro-ministro.
Por fim, referindo ao caso do BPN e aos ataques realizados nessa altura ao papel desempenhado por Vítor Constâncio, então governador do Banco de Portugal, o socialista disse em tom sarcástico que “é uma ironia que aqueles que no caso do BPN culparam o supervisor agora não o façam”, referindo aos elogios que a atuação de Carlos Costa tem merecido de parte a parte.