“Pior do que surpreendido, fiquei chocadíssimo”. A afirmação pertence ao antigo ministro das Finanças do Governo encabeçado por Cavaco Silva, Miguel Cadilhe, e reporta ao colapso do BES. Manifestando-se ainda “tristíssimo com este caso”, em entrevista ao Diário Económico o economista realça que “Portugal está de luto com isto. A elite portuguesa política, empresarial e institucional está toda posta em causa”.
Cadilhe vai mais longe nesta avaliação e alerta mesmo para o facto de a crise protagonizada pela família Espírito Santo não só “é grave do ponto de vista dos riscos para o regime”, como “põe em risco a República”.
“É um risco que põe em causa o regime e a estrutura da República, as instituições da República”, insiste o antigo governante.
Recuando três anos, Cadilhe considera que “quando abrimos as portas à troika, foi um falhanço histórico dos mais graves que Portugal sofreu”, imputando responsabilidades a todas as instituições. “Foi um falhanço institucional. Estávamos a assumir o erro das instituições, que durante anos falharam. O resultado foi o colapso das finanças públicas”, concretiza.
E as críticas são transversais. Do Governo ao Parlamento, passando pelo Tribunal de Contas e Banco de Portugal, Cadilhe não isenta tão pouco aquele que foi chefe do Executivo que integrou e que hoje é Presidente da República, entendendo que Cavaco Silva tinha o dever de alerta face ao que então estava a passar-se no País.
Questionado sobre se momentos como o do descalabro que tombou o BES podem constituir uma boa oportunidade para melhorar a qualidade das instituições, o economista é categórico: “É uma péssima oportunidade, que pode ser usada para um bom fim, não obstante os custos que temos tido. Destes ninguém nos salva”, remata.