A três dias da eleição do chefe do Executivo, professores, arquitetos, artistas e desportistas falaram à agência Lusa das suas expectativas para o novo Governo, concordando que a habitação vai ser o maior desafio para os próximos cinco anos - o preço das frações não tem parado de subir nos últimos anos, tornando a aquisição e arrendamento cada vez mais inacessíveis à população.
"O desafio é encontrar terrenos disponíveis para habitação, [possivelmente] expandir para a Ilha da Montanha. O problema número um é a habitação, mas também os transportes e a poluição, questões que, de alguma maneira, estão interligadas", destacou o arquiteto Francisco Vizeu Pinheiro.
A opinião é partilhada por Francisco Manhão, presidente da Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APOMAC): "A matéria mais sensível e quente é a habitação". Na mesma linha segue também António Aguiar, presidente da Associação de Patinagem de Macau, para quem o problema "tem de ser atacado de raiz".
O artista plástico Fortes Pakeong Sequeira indicou que o problema da habitação afeta a comunidade artística de forma particular e defende que "o Governo devia ceder frações, como antigos espaços industriais, a preços especiais" para estúdios.
"Muitos jovens artistas não conseguem dedicar-se à arte a tempo inteiro porque não têm espaço para trabalhar. Precisamos que se crie um bairro para artistas que lhes permita crescer. Se ele [Chui Sai On] conseguir fazer isso, será um herói", explica.
O trânsito surge como a segunda grande preocupação, num território onde circulam mais de 200 mil veículos em pouco mais de 400 quilómetros de estrada e onde, apesar da promessa de aposta nos transportes públicos, a insatisfação com o número insuficiente de autocarros e principalmente de táxis não para de crescer.
"Deixei de guiar, mas também espero muito tempo pelo autocarro, às vezes meia hora, uma hora. O trânsito é um grande problema em Macau", comentou Fortes Pakeong Sequeira.
Para António Aguiar "o problema do trânsito está cada vez pior" e ou se faz alguma coisa, ou "vai chegar o dia em que não se consegue sequer andar".
O professor de Matemática Jack Ng chama a atenção para um problema mais abrangente: a falta de confiança da população no Governo: "Há um número muito grande de cidadãos que desconfia do Governo. O programa [de Chui Sai On] é aceitável, mas a dúvida é se vai conseguir cumprir as coisas que promete", alertou.
Olhando concretamente para a pasta da Educação, Ng, docente na secção inglesa do Colégio Sagrado Coração Canossiano, deseja que as vozes dos professores sejam mais ouvidas, quer pelo Executivo, quer pelas direções das escolas. "Temos de promover escolas mais democráticas. São os professores que estão na linha da frente e sabem o que é bom para os alunos, mas as suas vozes não são [consideradas importantes] pelas direções das escolas", diz.
Quanto à comunicação com o Governo, o docente dá como exemplo a nova sugestão dos Serviços de Educação e Juventude para fixar quotas máximas de reprovação nas escolas. "Não queremos seguir um número fixo, queremos um sistema escolar saudável", comenta.
No desporto, António Aguiar destaca a gestão dos espaços, que apesar de existirem, estão debaixo da alçada de diferentes organismos públicos e "Há uma disseminação da responsabilidade por tantas entidades, que não é eficaz. As instalações acabam por estar umas sobrelotadas, outras vazias", critica.
Olhando para a sua modalidade, António Aguiar considera prioritária a construção de uma pista e ringue de patinagem, já que o hóquei em patins está entre as modalidades que mais títulos dá a Macau. "Estamos a preparar as nossas seleções e estivemos três meses e meio sem espaço para treinar porque o único pavilhão que podemos usar [no Colégio Dom Bosco] estava em obras. Isso é muito mau", lamenta.
No que toca à gestão de espaço, Francisco Manhão insiste numa ideia antiga, que é a criação de uma "cidade satélite" para idosos, preferencialmente localizada na península de Macau, com habitação a preços mais acessíveis e serviços como uma clínica, "para não terem de recorrer ao hospital", espaços recreativos e lojas de primeira necessidade.
O novo líder do Governo é eleito no domingo e na corrida está apenas um candidato, o atual chefe do Executivo, Chui Sai On, que será reconduzido após a votação por um colégio com 400 membros.