“Conheço o Ricardo Salgado desde miúdo e não tenho o costume de deixar cair as pessoas quando estão penduradas”, começou por dizer o presidente da Fundação Oriente ao jornal i.
Para Carlos Monjardino a crise do BES só veio provar que é o sistema financeiro que manda na política. “As pessoas habituaram-se a pôr o sector financeiro nos píncaros da lua. Da mesma forma que acham que o setor financeiro é completamente independente do setor político. E não é. O setor financeiro manda na política, sempre mandou, e há-de ser sempre assim", continua.
Sobre a situação que levou à queda do Banco Espírito Santo, Carlos Manjardino garante que não pretende atribuir culpas. "Não estou a tirar culpas nenhumas, mas há dados que me fazem pensar que a maneira de resolver o assunto podia ter sido outra”, conta.
“Não sei o que foi dito à administração do BES, mas não acredito, conhecendo bem alguns dos membros da família, que se a questão tivesse sido posta de uma maneira perentória, com datas definidas para resolverem certas questões, eles não o tivessem feito. E estou convencido que não aproveitaram a boleia de 2008 para serem capitalizados por dinheiro público não pelo que se diz – que já existiam problemas que não queria que fossem descobertos -, mas porque lhes fazia confusão uma segunda nacionalização”, garante.
Sobre a vinda da família Espírito Santo para Portugal e o negócio que envolve o Crédit Agricole, o gestor recorda que fez parte do processo. “Assisti àquilo tudo. Estive na origem do regresso deles para Portugal através do Crédit Agricole. Talvez os Espírito Santo estivessem interessados em voltar para Portugal. E assim foi. Agora é evidente que se devem ter endividado para fazer o que fizeram”.
Relativamente ao estado de espírito do antigo gestor do Banco Espírito Santo, o presidente da Fundação indica que ele está bem. “Acho-o relativamente calmo. Às vezes, quando vê as notícias, e há assim umas, reage um bocadinho mais exaltado. Diz que as coisas não são assim e que só se explica depois de estar tudo acabado do lado do Banco de Portugal”.
Já sobre o afastamento de Ricardo Salgado, o presidente afirma que a sua saída deveria ter sido imediata. “Devia ter logo saído. Mas é preciso encontrar quem pegue nas rédeas das coisas e ele tinha grande dificuldade em arranjar alguém para tomar conta do grupo”, explica.
Na entrevista ao i, Carlos Monjardino criticou também o Governo por considerar que o Executivo "é particularmente insensível à saída das pessoas e isso vê-se agora na justiça, na educação, saúde. As pessoas, que já não têm um nível de vida minimamente bom ou razoável em termos de remuneração, devem, pelo menos, poder contar com o Estado para este tipo de coisas".