Em entrevista ao i, Alexandre Soares dos Santos contou um episódio caricato que se passou na empresa que liderou – a Jerónimo Martins, 62ª maior do mundo, segundo a Deloitte – para metaforizar o que está a acontecer com o país.
“Há coisas a funcionar muito mal? Há, claro, os partidos políticos. Não querem descer ao país, não querem conhecer a realidade. A maior parte dos nossos ministros nunca trabalhou e isso é mau. É preciso saber o que é o mundo, tirar a prova dos nove”, lamentou.
“Uma vez apareci num armazém à meia-noite, depois de ouvir comentários a dizer que os frescos não estavam bons nas lojas. Fui ver se era verdade e era. Decidi verificar, à hora a que chegavam os produtos, o que se passava. Era o forrobodó total no armazém, jogava-se à bola com couves. Vim-me embora e julgavam que não voltava, mas às sete da manhã estava lá outra vez. Foi tudo para a rua, a começar pelo diretor”, contou.
Na perspetiva do empresário, os governos “não sabem as consequências das suas decisões” e era necessário “uma espécie de livro branco feito por grandes cabeças, portuguesas ou estrangeiras, que analisasse o país por setor”.
“A sociedade portuguesa continua a não perceber que que um chauffeur particular tem de ter um curso, não basta ter carta”. Cá é o faz-tudo e o faz-tudo morreu. Somos refratários à mudança e por isso não conseguimos perceber os nossos problemas”, atirou.
Ainda em jeito de protesto contra o Portugal em que reside, Soares dos Santos acrescentou: “Há dois tipos de corrupção: aquela que chamo do porteiro, cá em baixo, que não tem valor nenhum, e a grande corrupção. E a grande corrupção sabe-se exatamente onde está. Na promiscuidade entre o poder económico e o poder político. E ninguém atua. Permite-se tudo”.