"Houve uma mudança de atitude [da administração liderada por Stock da Cunha]. Até princípios de janeiro, davam-nos a entender que estavam disponíveis para dialogar. Mas, desde então, as coisas mudaram", afirmou o responsável durante a sua audição na comissão parlamentar de inquérito ao caso BES/GES.
"Foi-nos dito que ia haver uma solução, não qual. Agora, acreditando no que foi dito na sexta-feira 13 [comunicado do Banco de Portugal], não vão pagar nada", sublinhou.
Luís Vieira queixou-se aos deputados que, nas últimas semanas, "a informação tem sido praticamente nula", apontando o dedo ao Novo Banco, ao Banco de Portugal e à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).
E realçou: "É muito difícil explicar isto aos associados, que há pouco tempo continuavam a ver os balcões com a marca BES [Banco Espírito Santo] e tinham garantias dos funcionários do BES que iam ser reembolsados, e agora nem sequer querem falar com eles".
Segundo o líder desta associação de clientes, toda a situação "parece quase esquizofrenia".
Luís Vieira vincou que "as pessoas foram convidadas a aderir a estes produtos. Ninguém saiu de casa a pensar: olha, vou ali comprar papel comercial da ESI [Espírito Santo International]".
E acrescentou que o papel comercial das 'holdings' do Grupo Espírito Santo (GES) "sempre foi apresentado às pessoas como produto Espírito Santo".
O responsável salientou que um dos argumentos usados pelos funcionários do BES que venderam estes produtos aos balcões do banco era que o banco, então liderado por Ricardo Salgado, tinha sido o único dos grandes bancos portugueses que não tinha recorrido à ajuda da 'troika' (União Europeia e Fundo Monetário Internacional), minimizando o risco das aplicações subscritas pelos clientes, que tinham, segundo Luís Vieira, um perfil de investimento "conservador e ultra conservador".
Já o comunicado do Banco de Portugal da última sexta-feira, no qual está escrito que a responsabilidade pelo pagamento do papel comercial das 'holdings' do GES subscrito aos balcões do BES não transitou para o Novo Banco, é alvo de duras críticas.
"Foi com total surpresa que verificámos o comunicado da passada sexta-feira, 13. Para nós, o GES e o BES fazem parte de uma mesma realidade e isso comprova-se pelos fluxos financeiros", salientou.
E apontou para o seu exemplo pessoal: "Fomos convidados, como no meu caso, para passar do BES para o 'private banking' [departamento de gestão de fortunas] ou para uma sucursal [no estrangeiro] ".
Luís Vieira precisou que a ABESD representa "as pessoas que adquiriram papel comercial da ESI e da Rioforte, embora também haja algumas aplicações mais antigas da ESFIL e de um fundo do Banque Privée Espírito Santo, o EXS".
"Quando o BdP começou a criar maior dificuldade para o BES comercializar produtos do GES, coincide com o surgimento deste fundo", atirou Luís Vieira.