“Em tempos a lei ocupava-se de culpados e criminosos; agora trata sobretudo de inocentes em atividades pacíficas, subitamente fora da lei. (…) Exemplo recente são os sacos de plástico, passando da banalidade a multa. (…) Nunca o humilde saquinho julgou merecer tanta notoriedade.”
É desta forma que João César das Neves introduz o tema das restrições legais impostas à cedência de sacos em superfícies comerciais, cabendo depois no seu artigo de opinião publicado no Diário de Notícias uma longa incursão sobre outras restrições impostas pelo Governo.
“(…) dos bandidos que nos queriam assassinar com brindes de bolo-rei, gasolina com chumbo ou sabonetes sólidos e toalhas de pano em casas de banho públicas”, na perspetiva do professor universitário, têm tido mais atenção legislativa que “os sérios casos e fraude financeira agora denunciados”.
O economista, numa toada crítica, lamenta ainda as imposições impostas à cedência de alimentos, por exemplo, que sobejam de cafés e supermercados, referindo que “é mais complicado vender pão do que pornografia ou armas de fogo”.
Para César das Neves todas estas restrições têm um propósito: a defesa de interesses. “O Estado serve o bem comum. (…) Os interesses não são maus; de facto todas as regras e legislações referidas e outras afins têm excelentes razões de ser. O defeito dos interesses é serem particulares”, sintetiza.