O antigo Presidente português, Ramalho Eanes, considera, em entrevista ao Expresso, publicada no sábado, que numa situação de dificuldade como a actual “é indispensável que haja solidariedade” entre os que mais tem e os que têm menos, defendendo que “deve cortar-se nos que mais recebem”.
“Eu sou dos que mais recebem. Concordo que me cortem, e até podem cortar mais, mas mostrem-me que esses cortes têm resultados positivos. Primeiro, assegurem-me que não haverá ninguém com fome”, afirma o antigo Chefe de Estado português.
Ramalho Eanes também “não admite que se olhe para o desemprego como se fosse uma realidade abstracta”. “O desemprego são desempregados”, sustenta, acrescentando que “um desempregado, sobretudo de longa duração, é um homem que, pouco a pouco, perde a sua autodignidade, perde respeito por si e pelos outros”, e alerta que, no caso de um jovem desempregado, “é muito pior: sente que lhe estão a roubar o futuro”.
Na mesma entrevista, Ramalho Eanes não exclui a possibilidade de haver governos da iniciativa de Belém. “Acho que é uma hipótese que não se deve excluir”, indica, adiantando, contudo, que, estes casos devem ser uma “solução sempre transitória, consensual e de preestabeecida duração”.
A propósito da reforma do Estado, o antigo Presidente considera que é necessária uma “reforma profunda”, mas defende que “nunca se faz uma reforma contra o País”. “Só se faz uma reforma utilizando um método capaz”, defende, frisando que “nunca se faz uma reforma contra os indivíduos que vão dar-lhes realização”.