Moçambique corre o risco de cair numa crise de dívida
O economista moçambicano Carlos Nuno Castel-Branco adverte que a dívida pública moçambicana já atingiu os limites de sustentabilidade, alertando para o risco de "explosão de uma crise de dívida", resultante de eventuais flutuações da economia mundial.
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Maputo, 02 jul (Lusa) - O economista moçambicano Carlos Nuno Castel-Branco adverte que a dívida pública moçambicana já atingiu os limites de sustentabilidade, alertando para o risco de "explosão de uma crise de dívida", resultante de eventuais flutuações da economia mundial.
"A dívida começa a ficar perigosa e, à medida que se aproxima dos seus limites, as flutuações na economia mundial, por exemplo, à volta da questão das taxas juros, podem fazer explodir uma crise de dívida", disse à Lusa o diretor de investigação do Instituto de Estudos Sociais e Económicos.
A discussão sobre a dívida pública moçambicano, que, segundo o Governo, era de 36% do Produto Interno Bruto (PIB) em dezembro, tornou-se num tema central na esfera económica do país, com economistas moçambicanos e internacionais a questionarem a sua sustentabilidade e, em oposição, outros a defenderem a sua importância para o desenvolvimento da economia.
O Governo tem reiterado a sustentabilidade da dívida e o próprio fundo Monetário Internacional entende que está dentro das margens aceitáveis, embora alertando que a partir dos 40% o alarme soará.
Com os recentes investimentos públicos, que incluem a polémica empresa de pesca moçambicana Ematum, avaliada em mais de 765 milhões de euros, e a construção do Aeroporto Internacional de Nacala, no norte do país, estimado em 160 milhões de euros, a pressão sobre a dívida pública moçambicana aumentou, principalmente nos últimos dez anos, segundo Castel-Branco.
"Se contabilizarmos seis ou sete dos grandes projetos que existem agora em Moçambique, vamos ver que eles representam 70% do ´stock´ de divida externa", adiantou Carlos Nuno Castel-Branco, salientando que as dinâmicas comerciais da dívida tornam-na mais cara e arriscada para a economia moçambicana.
Cético quanto à oposição dos que acreditam que a dívida é positiva para recuperar terreno no desenvolvimento do país, o académico entende que o que está gerar a dívida é o subsídio às multinacionais do complexo mineral energético e florestal, considerando que se trata de uma iniciativa ariscada para a economia.
"Nós precisamos perceber se esta dívida resulta de um investimento com solidez económica e social que, portanto, multiplica as fontes de rendimento e de receitas, ou, pelo contrário, se é uma dívida arriscada, gerada a partir de áreas muito específicas da economia e que se centram basicamente na especulação de expetativas", declarou o académico.
Apontando para a emergência de "oligarquias capitalistas" no panorama económico moçambicano, o investigador considera que o país corre o risco de acabar como a Grécia, numa situação em que a dívida será paga por quem nunca beneficiou da mesma.
"Essa é uma dívida localizada na formação de oligarquias nacionais capitalistas, que beneficiam do capital multinacional para gerar negócios, mas é todo povo que vai pagá-la ", afirmou Carlos Nuno Castel-Branco, avisando, no entanto, que os problemas que o país enfrenta fazem parte de uma lógica económica que precisa ser desafiada.
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