"Sou a favor deste euro, não deste euro, este euro tem de ser reestruturado porque o que acontece hoje na Grécia, pode acontecer amanhã em Portugal", disse à agência Lusa Boaventura de Sousa Santos, ao comentar as conclusões de um estudo coordenado pelo economista Augusto Mateus, designado "Três Décadas de Portugal Europeu", que será hoje apresentado e que faz um balanço da integração europeia portuguesa desde 1986.
Para Boaventura de Sousa Santos, os dados são conhecidos pelos especialistas e carecem de leitura e enquadramento ao nível social e político: "Sabemos que a emigração tem aumentado e que o rendimento médio dos portugueses tem divergido do dos europeus".
O sociólogo recordou que, quando Portugal entrou para a então Comunidade Económica Europeia (CEE), a lógica era de convergência, um percurso que abandonou no virar no século, para se instalar uma dinâmica de divergência.
"Tudo isto tem muito a ver com este euro e com a forma como a 'troika' tratou a crise", referiu à Lusa, sublinhando que houve um empobrecimento muito rápido e que a questão da dívida está longe de ser resolvida.
Países como Portugal, Espanha, Grécia e Irlanda, prosseguiu, foram muito afetados pela entrada no euro, "uma moeda muito forte".
O sociólogo considerou que houve, nos últimos anos, "erros fatais" e que Portugal, "ao contrário do que se diz", não é um caso de sucesso: "É um caso muito problemático, talvez o mais problemático a seguir à Grécia. Isto está nos relatórios do Fundo Monetário Internacional" (FMI).
O catedrático acredita que, logo depois das eleições, os portugueses serão confrontados "com os factos que o FMI considera decisivos" para a sociedade portuguesa.
A emigração é uma das maiores debilidades do país na opinião do especialista, especialmente a mão de obra qualificada que Portugal formou nos últimos 20 anos e que agora coloca ao serviço de outros países.
"Isto é imperdoável, fizemos um investimento enorme na ciência e deixamos ir embora os jovens. Tem de se caminhar para uma União Europeia que não existe neste momento", sublinhou, defendendo que é necessário alterar o estatuto do Banco Central e reestruturar "dívidas impagáveis".
Uma política de unidade fiscal para as empresas, para que não mudem as sedes para países com vantagens fiscais face ao país de origem é outra das medidas que defende para que a Europa seja de facto uma União e não uma competição entre povos.
Caso contrario, "isto não é uma União, é uma desunião", sustentou.
O especialista considerou igualmente que, para a Europa "funcionar bem", as economias mais débeis deveriam ter condições de promoção dos seus sistemas económicos.
"A Europa não está preocupada com a criação de emprego. Este euro é insustentável", argumentou.
Se não houver uma inversão de políticas, Boaventura de Sousa Santos antevê que a Grécia continuará "a ser saqueada" e países como Portugal "também aguentarão" a pressão.