Os emigrantes lesados pelo Banco Espírito Santo manifestaram-se, na passada sexta-feira, junto à sede do Novo Banco, na Avenida dos Aliados, no Porto. Entre 150 a 200 lesados reuniram-se com o intuito de reaverem as poupanças e de serem tratados como os restantes portugueses.
“Nós não somos portugueses? Sou emigrante, mas sou português”, desabafa Eduardo Fernandes, motorista de autocarros, revoltado com a solução apresentada aos clientes que vivem fora de Portugal. Está emigrado em França desde 1978 e garante que o dinheiro “ganho com suor” servirá para ajudar os filhos, já que a sua vida “está praticamente feita”.
No meio da multidão, Ana Cruz esteve presente para representar os pais e todos os emigrantes. Garante que não há qualquer justiça na devolução de 60%, “queremos 100%”, reitera ao Jornal de Notícias. “Sem o dinheiro dos emigrantes, o país vai ao charco”, afirma a chef hoteleira na Suíça, garantindo que está a ponderar “nunca meter dinheiro” em Portugal, ao contrário do que os pais fizeram ao longo da vida.
“Só querem dar-me 60% do meu dinheiro e eu não estou de acordo, trabalhámos muito para ganhá-lo”, relembra Maria Fernanda. As poupanças da costureira a trabalhar na região de Paris não estavam todas no BES, o que a deixa um pouco mais tranquila, porém acredita que se trata de um roubo e quer tudo o que lhe pertence. “Estão a mentir-nos muito”, frisa, mostrando ainda que a ameaçaram, pois se não assinar o acordo até ao fim do mês irá perder tudo.
O caso de José Miguel Martins é ainda mais grave. O comerciante em França tinha todas as suas poupanças, as da mãe, de 84 anos, e as do sogro, de 76 anos, depositadas no BES. Falavam em “capital garantido” e o emigrante nunca desconfiou. “Agora, fiquei mesmo sem nada”, lamenta.