"[A Direção-Geral da Concorrência da Comissão Europeia] podia ter utilizado o Banif como moeda de troca e se calhar foi o que fez. Eu cá tenho a minha tese, com fundamentos, mas não me vou adiantar", disse Jorge Tomé durante a sua intervenção na conferência sobre o sistema financeiro português que hoje está a decorrer em Lisboa, na Faculdade de Direito.
Bruxelas mereceu hoje duras críticas de Jorge Tomé quanto, quer à sua postura durante as negociações dos planos de reestruturação do banco, desde 2013, como na resolução da entidade, em dezembro do ano passado.
O administrador bancário disse não querer dar eco às críticas que falam que o Banif poderia estar já prometido ao Santander Totta, mas questionou a Comissão Europeia por durante anos ter andado a falar das "regras sagradas" de um processo de venda, que tinha de ser "transparente, competitivo e aberto", mas depois ter aceitado que tal não acontecesse quando impôs à administração do Banif, no fim de 2015, que alienasse o banco numa semana.
À saída da conferência, questionado pelos jornalistas, Jorge Tomé voltou a recusar desenvolver a sua tese de o Banif ter servido como moeda de troca, afirmando apenas novamente que a "liquidação forçada" que considera ter acontecido no Banif só se justifica se a entidade foi usada como "moeda de troca" de alguma coisa.
A 20 de dezembro, domingo ao final da noite, o Governo e o Banco de Portugal anunciaram a resolução do Banif, a venda de parte da atividade bancária ao Santander Totta, por 150 milhões de euros e a transferência de outros ativos - incluindo 'tóxicos' - para a nova sociedade veículo Oitante.
A resolução foi acompanhada de um apoio público de 2.255 milhões de euros, a que se somam duas garantias bancárias do Estado, no total de 746 milhões de euros.
Com a resolução, o Estado perde ainda os 825 milhões de euros da injeção de capital que fez no final de 2012 no banco. Então, o Estado investiu 700 milhões em ações e 400 milhões de euros em dívida híbrida -- 'CoCo bonds' - dos quais o Banif só devolveu 275 milhões.