Depois de uma recuperação lenta, que permitiu o regresso português aos mercados de dívida sem apoio da troika, chegou agora um movimento oposto que está a colocar em causa a estratégia de financiamento delineada para este ano.
Nas trocas entre investidores, a dívida portuguesa voltou a ficar mais cara na sessão de ontem, chegando a máximos de quase dois anos nos principais prazos. Apesar de serem apenas indicativas, as taxas de juro exigidas pelos vendedores no mercado secundário são vistas como uma indicação do sentimento dos investidores em relação à dívida do país, permitindo fazer previsões sobre o sucesso ou fracasso das emissões diretas de Obrigações ou Bilhetes do Tesouro.
Nos títulos a dez anos, a taxa implícita chegou hoje aos 4,285%, o valor mais alto desde março de 2014 e muito acima do mínimo de 2,257% conseguido a 2 de dezembro. A dívida a cinco anos está prestes a tocar nos 3% de juros, um recorde de quase dois anos. A taxa fica muito acima dos 0,918% do dia 2 de dezembro, o custo mais baixo de financiamento dos últimos seis meses. A dois anos o panorama é semelhante: a taxa chegou hoje aos 1,474%, depois de ter estado nos 0,052% na primeira sessão de 2016.
A ajuda do BCE ao sistema financeiro da zona euro permitiu emissões de dívida com custos historicamente baixos para os cofres do Estado, mas as dificuldades dos mercados no início deste ano parecem estar a contagiar os investidores em dívida. Espanha, Itália e Grécia seguem o mesmo caminho de Portugal e lá como cá, os governos não escapam às críticas.
O PSD, através de Luís Montenegro e o CDS-PP, através de Assunção Cristas, mostraram preocupação com a subida dos juros e culpam o Governo de António Costa por lançar o pessimismo nos mercados. Antes da reunião do Eurogrupo de ontem, Wolfgang Schauble avisou o Executivo que podia "perturbar os mercados" caso o caminho de austeridade e ajustamento estrutural fosse invertido, lançando um alerta de peso vindo do parceiro europeu mais influente.
O Governo já admitiu, pela voz da ministra da Presidência, estar "preocupado" com o aumento dos custos de financiamento, mas até agora não existe qualquer plano para alterar os calendários de emissões definidos pela Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública.