Rui Sancho, um dos elementos da Comissão Especializada de Qualidade de Água da Associação Portuguesa de Distribuição e Drenagem da Água (APDA) referiu que "não há uma preocupação declarada das entidades gestoras em se adaptarem às alterações climáticas".
"O que notamos é que há uma tentativa de ser mais eficiente do ponto de vista energético por uma questão de factura, não para utilizar, por exemplo, tecnologias mais limpas para reduzir a emissão de dióxido de carbono", que tem influência nas alterações climáticas, apontou.
Já a eficiência hídrica "está mais associada à redução de perdas de água e económicas para baixar custos e não há uma estratégia claramente definida para cada uma das entidades gestoras que responderam ao inquérito [realizado em 2011] para se adaptarem às alterações climáticas", acrescentou Rui Sancho.
O representante da Águas do Algarve na Comissão falava à agência Lusa a propósito do Encontro "Alterações Climáticas - Escassez de Água e Eficiências Energética e Hídrica no Ciclo Urbano da Água", que decorre na quinta-feira em Lisboa e pretende reunir especialistas em clima e em gestão de recursos hídricos para trocar informações sobre a situação actual e preparar o futuro.
O objectivo é "discutir os problemas associados às alterações climáticas para o sector de abastecimento de água, como a precipitação elevada, que leva à alteração da qualidade da água de origem utilizada para consumo humano" e perceber como as entidades gestoras se estão a adaptar para enfrentar estes eventos extremos.
"É notório o agravar de eventos extremos nos últimos anos, de precipitações mais intensas e secas mais prolongadas", realçou.
A APDA realizou um inquérito às entidades gestoras em 2011 e uma das conclusões é que Lisboa e Vale do Tejo "é a região com maior taxa de avaliação dos impactos das alterações climáticas na sua actividade, contrastando com o Alentejo, em que as 11 entidades gestoras que responderam não demonstraram grandes preocupações" com estes fenómenos, recordou o técnico.
E isso "pode parecer relativamente estranho, tendo em conta que é uma região com escassez de recurso hídrico", salientou.
Ao contrário, a região do Algarve tem o "maior número de entidades gestoras preocupadas com a eficiência hídrica e em Lisboa e Vale do Tejo localiza-se o maior número de entidades preocupadas com a eficiência energética, mas mais ligada à redução da factura do que à emissão de dióxido de carbono".
Rui Sancho referiu que diversas entidades gestoras em todo o país, quer dos sistemas multimunicipais quer dos municipais, têm efectuado pequenos estudos, financiado teses de mestrado ou de doutoramento nesta matéria, "mas claramente a EPAL tem estado na vanguarda destas preocupações" e representa uma parte importante da população portuguesa.
"Não é do nosso conhecimento que existam outras empresas da dimensão próxima da EPAL a realizar estudos", disse o especialista.
O elemento da APDA realçou ainda que "qualquer alteração no sector ou em cada uma das entidades gestoras tem de ser bem planeada [pois] podemos estar a falar em investimentos necessários com grande volume financeiro".