Em entrevista à agência Lusa a propósito das 'bodas de prata' enquanto estilista, Miguel Vieira explicou que apenas 20% dos artigos da sua marcam ficam para consumo do mercado interno, mas adiantou que 90% da sua produção é feita em Portugal.
"A exportação é a única saída. Obviamente que exportar uma marca é um processo muito complicado, porque não é, pura e simplesmente, chegar lá fora e vender os nossos produtos. É o registo da marca nos países, é o registo nas classes dos países e é preciso um 'background' financeiro muitíssimo elevado para nós conseguirmos apresentar as nossas coisas", explicou.
De acordo com o estilista oriundo de S. João de Madeira - que na sexta-feira apresenta a sua colecção no penúltimo dia da 32.ª edição do Portugal Fashion, no Porto -- "2012 foi melhor do que 2011 e 2013 será ainda melhor" porque já terminaram as vendas para o próximo outono/inverno e registou-se uma subida.
"Sobretudo porque o segmento que eu quis sempre abraçar e para quem eu dediquei sempre as minhas colecções foi para o mercado de luxo. E esse mercado, por mais incrível que pareça, não sofre crise", justificou.
Miguel Vieira avançou que "uma média de 600 famílias" depende do trabalho para a produção da sua marca, assumindo sentir "muito esse peso", já que é "uma grande responsabilidade".
"Quando faço uma colecção não a faço para Portugal, faço uma colecção para o mundo", disse, assumindo-se como um criador e não como um economicista.
O designer de moda explicou que cada colecção "tem que ser bastante abrangente" e que uma das suas grandes preocupações "é que cada cliente, de qualquer parte do mundo, quando vê a colecção, possa adquirir as peças para as lojas multimarca independentemente da cor de pele, do clima ou da estrutura" das pessoas dos diferentes países para os quais vende.
Miguel Vieira criticou ainda a ausência dos apoios devidos para a moda, uma vez que esta "ainda é olhada como uma arte um bocadinho menor", considerando que "qualquer país só vai para a frente desde que a palavra cultura e a palavra arte não saiam fora do dicionário das pessoas".
"Todo este agravamento [de custos de contexto] que nós temos em termos empresariais dificulta o exercício do trabalho em Portugal. Obviamente que era preciso benefícios fiscais, porque de manhã à noite se paga impostos", observou.
Em termos futuros, o estilista avançou a possibilidade de abertura de "uma ou duas novas lojas em Angola", mas alertou que não é "o homem do dinheiro" e que todo o capital de que dispõe "é para investir na marca".
"O meu produto é muito bem aceite em Portugal. O que eu não tenho é possibilidade de alargar mercado no nosso país. Cada vez existem menos lojas multimarca com a qualidade que eu pretendo. Eu gostava de alargar, mas não há mais mercado para alargar", lamentou.
Assumindo que o "principal desafio é poder apresentar as colecções noutros mercados", Miguel Vieira defendeu a necessidade de "pensar global e mundial", considerando que esse foi - e continua a ser - "um dos problemas da moda portuguesa".
Outro dos grandes entraves no sector em Portugal é, na sua opinião, o facto de que "a maior parte das grandes multinacionais não olham para a moda portuguesa como um negócio e não apostam propriamente nos criadores de moda".