"Não concordo com a criação do 'bad bank' ('banco mau') para a banca", disse hoje Licínio Pina, num almoço-debate, em Lisboa, com o tema "A Banca Nacional e o Financiamento da Economia -- O Caso do Crédito Agrícola", organizado pelo International Club of Portugal.
O presidente do Crédito Agrícola considera que cada banco deve criar "os seus veículos para resolver os seus problemas".
Para Licínio Pina, a criação de um veículo para crédito malparado, o chamado 'bad bank', no sistema bancário "prende-se em saber quem é que aporta capital" para esse veículo.
"Porque ao retirar do balanço dos bancos determinadas importâncias de crédito malparado alguém tem de as suportar. E quem? É o erário público, é o contribuinte, são os outros bancos? Essa é a grande questão. Então é possível criar o 'bad bank', mas cada um que o crie", reforçou, já à margem do evento.
O primeiro-ministro português, António Costa, defendeu no início do mês, numa entrevista à TSF e ao DN, que é "útil para o país encontrar um veículo de resolução do crédito malparado".
Licínio Pina falou hoje também sobre a supervisão e criticou o hábito de se "transferir para outros responsabilidades" que os próprios criam e frisou que os gestores dos bancos "são os principais responsáveis" pelos problemas existentes nas instituições financeiras.
"É absolutamente impressionante. Como é que depois de vermos extinguir quatro bancos da forma como vimos, como é que ainda hoje se fala num problema sistémico na banca portuguesa relativamente a crédito vencido", questionou, alertando que isto pode significar a existência de "problemas mais complexos" do que aqueles que são conhecidos relativamente ao balanço dos bancos.
Por isso, sublinhou que o ideal é não concentrar crédito: "Mal vai o banco em que os clientes mandam no banco. Mas quando mandam? Quando a exposição é tal que o banco não consegue digerir a sua exposição".
Questionado sobre a eventual "'espanholização' da banca portuguesa", Licínio Pina disse que tal não é um problema, apenas admitindo que em termos de solução pode haver outras.
Mas lembrou que ainda assim houve outas empresas portuguesas que foram capitalizadas "com dinheiro vindo de geografias bem mais exóticas do que a espanhola".
"E, portanto, não vejo nenhum inconveniente de que venha dinheiro espanhol, se for necessário. Pode ser uma solução, mas não é a única obviamente", afirmou.
O debate em torno da 'espanholização' da banca portuguesa surgiu na sequência da compra do Banif pelo Santander Totta por 150 milhões de euros, anunciada em dezembro, numa altura em que ainda está por se decidir a venda do Novo Banco e em que o CaixaBank se prepara para lançar uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) para controlar o BPI.