“É quase preciso ter uma varinha mágica para transformar a abóbora numa carruagem”, diz Manuela Ferreira Leite a propósito do Documento de Estratégia Orçamental já entregue pelo Governo no Parlamento e cujas medidas serão anunciadas amanhã pelo primeiro-ministro Passos Coelho, numa declaração ao País pelas 20h.
No comentário semanal na TVI 24, a antiga ministra das Finanças afirmou que o Documento de Estratégia Orçamental (DEO) “pouco acrescenta ao nosso futuro”, adiantando que “podia ser uma tese de doutoramento e o que lhe falta é que tem um modelo teórico sem nenhuma adesão à realidade”.
A economista explicou que no documento estão bem vincados os objectivos fixados pela troika e depois constroem-se os outros indicadores, como o consumo e o investimento, por exemplo, de forma a encaixarem naqueles objectivos.
“É um exercício verdadeiramente feito de pernas para o ar porque não se vê com adesão à realidade qual vai ser a evolução destes indicadores”, vincou, sublinhando que “os números são verdadeiramente irrealistas e nunca serão possíveis de concretizar”.
Na TVI24, Ferreira Leite também acusou o ministro das Finanças de dizer no documento que “acha que até à data foram todos uns incompetentes”, apesar de garantir que não se sente “nada tocada” por já ter tido a pasta das Finanças. “Sei o que foi feito”, disse.
A antiga governante lamentou que, com medidas avulsas que não têm por base um plano concretizável, “dá a sensação que se está à espera que uma varinha mágica resolva todos os problemas”. “É quase preciso ter uma varinha mágica para transformar a abóbora numa carruagem”, ironizou.
Por isso mesmo Ferreira Leite lamentou que parece que “andamos fazer sacrifícios em nome de nada”. “Continuo a achar que aquele documento é verdadeiramente teórico, que nem para uma tese de doutoramento dava porque não tem adesão à realidade”, insistiu na TVI24.
Na mesma ocasião, e questionada sobre um agravamento da fragilidade de Vítor Gaspar, a economista depressa disse que não. “Não estou muito preocupada com a fragilidade do ministro das Finanças. Estou preocupada com o País. O problema é a política que está a ser seguida que nos está a conduzir para um verdadeiro desastre”, concluiu.