“A palavra ‘crise’ é completamente inadaptada. Não penso que as nossas sociedades estejam em crise”. Foi com estas palavras que Jean-Luc Mélenchon, antigo ministro da Educação francês, iniciou a entrevista ao jornal i.
Para Jean-Luc Mélenchon, “a ideia de crise dá a entender que é possível regressar à situação em que estávamos antes”. “Ora aquilo que se produziu não permite que regressemos ao ponto que estávamos antes da crise”, frisou.
Para fugir a este pré-conceito de crise, Mélenchon adaptou o termo ‘bifurcação’, que é “explicado por uma série de parâmetros e são estes que definem a dinâmica do sistema”.
Neste sentido, o co-fundador da Frente de Esquerda frisou o risco que Portugal, e por consequência a Europa, pode sofrer com a implosão da crise, referindo-se ao fim do euro: “É uma realidade que pode desaparecer em dez dias. Basta Portugal não pagar e temos uma crise que pode levar ao fim da moeda única”, disse ao i.
“O primeiro-ministro de Portugal tem um acidente de automóvel e durante umas horas está incapaz, os mercados reagem e a moeda implode. Isto quer dizer uma coisa: este euro está condenado, porque uma moeda que depende de um acaso para sobreviver não é uma moeda estável”, criticou.
Quando questionado pelo i sobre o facto de François Hollande, de esquerda, e Pedro Passos Coelho, de direita, adoptarem as mesmas medidas no combate à crise, o antigo ministro francês disse que tal se trata de “uma vontade predadora do capital financeiro que entrou na Europa pela Grécia devido à capitulação da Europa”.
Neste sentido, Mélenchon criticou o facto de os três líderes socialistas de então, do momento em que a crise se instalou, Sócrates, Zapatero e Papandreou, não terem “organizado alguma resistência por parte do Sul da Europa, com a ajuda de grandes partidos, como o Partido Socialista Francês e os Democratas italianos”, e aconselhou o PCP e o Bloco de Esquerda a terem a “responsabilidade de unir e de fazer um programa que possa juntar a maioria da população, porque é necessário ter do nosso lado a maioria das pessoas”.