Alice Munro "é a mais legítima herdeira da simplicidade de [Anton] Tchekov; com uma escrita aparentemente simples [consegue] criar personagens complexas que, à partida, são usuais, vulgares, que podemos encontrar em qualquer rua ou restaurante do Canadá", disse.
Para o editor este é "um exercício mais difícil", tendo sublinhado à Lusa a "escrita depurada" da autora canadiana.
"Acho que ela soube criar universos muito próprios, a partir de personagens aparentemente vulgares, em geral adolescentes, mulheres, com histórias muito complicadas pela vida moderna, pelas ruturas amorosas, pelas crises familiares, e consegue dar-lhes uma dimensão trágica e simbólica e atribuir-lhes um destino e um amor simbólico", disse.
Alice Munro tem "amplo público no Canadá e em Espanha, mas, em Portugal, era, até aqui, de certo modo, uma escritora de culto; agora irá ter, certamente, mais leitores, e merece-os".
Para o editor, Alice Munro era uma hipótese para o Nobel, dado os vários prémios que já tinha recebido, entre eles, o Governor General's Award, que é o mais importante galardão literário do Canadá, e o que foi escrito em revistas da especialidade como a The New Yorker.
Em perspetiva, além da reedição dos títulos da autora, Francisco Vale conta publicar, até ao final do ano, o único romance de Alice Munro, "Vidas de raparigas e mulheres" - título ainda em tradução livre.
Em Portugal, pela Relógio d'Água, estão editados os livros "Fugas", "O amor de uma boa mulher", "A vista de Castle Rock", "Demasiada felicidade", "O progresso do amor" e "Amada vida".
A Real Academia Sueca, ao anunciar hoje a distinção, referiu-se a Alice Munro, de 82 anos, como uma "mestre do conto contemporâneo".
Alice Munro, nasceu em Winghamem, na província de Ontario, no Canadá. Em 2009 recebeu o Man Booker Prize, e tinha sido já amplamente distinguida no seu país de origem.