Chama-se Tsunami Democràtic e é o movimento que tem organizado vários dos protestos na cidade de Barcelona depois de o Supremo espanhol ter, nesta segunda-feira, anunciado a condenação de nove líderes separatistas catalães. O papel que está a desempenhar nesta nova onda de protestos é tal, que o governo espanhol já se comprometeu a desvendar a identidade dos seus líderes, até agora no anonimato.
“Não tenho qualquer dúvida de que vamos acabar por descobrir quem está por trás do Tsunami Democràtic”, afirmou o ministro do Interior espanhol Fernando Grande-Marlaska, em declarações à rádio RNE esta terça-feira.
O grupo apareceu pela primeira vez nas redes sociais em setembro, como uma campanha para mobilizar separatistas na antecâmara da decisão do Supremo sobre os líderes catalães detidos. Prometiam “desobediência civil” e uma “luta não-violenta”, adianta a AFP.
Há suspeitas de que o Tsunami Democràtic tenha sido criado por um dos partidos independentistas, algo que o movimento já negou.
À vista salta o protesto organizado no aeroporto El Prat, horas depois de ser conhecida a sentença dos nove líderes separatistas. O Ministério do Interior disse que dez mil pessoas bloquearam o acesso ao aeroporto de Barcelona durante várias horas. Nas redes sociais e através de aplicações de mensagens encriptadas, o Tsunami Democràtic lembrou aos seus seguidores manifestações de outras latitudes. “Transformem a Catalunha num novo Hong Kong”, escreveram.
Isto é apenas o início, temos de nos preparar para o que aí vem e garantir que o tsunami democrático é imparável110 voos foram cancelados e mais de uma centena de pessoas ficaram feridas na sequência de confrontos com a polícia, 41 delas só na terça-feira. Confrontos que se repetiram esta terça-feira noutros locais da cidade Condal, e é aqui que reside o ponto de viragem no rumo dos protestos pela independência catalã iniciado há quase uma década.
Protestos de guerrilha?
Essas manifestações, impulsionadas pela Assembleia Nacional Catalã e pela Omnium, foram descritas como parte da “revolução dos sorrisos”, e como o analista político e historiador Joan Esculies refere, parte dos separatistas compreendeu que “essa revolução dos sorrisos não ia acabar bem”.
“O Tsunami Democràtic quer liderar uma espécie de guerra de guerrilha com ações pontuais”, acrescenta Esculies.
O movimento prometeu não parar. "Isto é apenas o início, temos de nos preparar para o que aí vem e garantir que o tsunami democrático é imparável", escreveu o grupo num tweet esta segunda-feira.
Para já estão a sê-lo. O seu número de seguidores não para de crescer. No Telegram, já contam com 280 mil.
Pep Guardiola posa veu a @tsunami_dem en un comunicat internacional emès per la @BBC i @AFP pic.twitter.com/8mWLgbanJr
— Tsunami Democràtic (@tsunami_dem) October 14, 2019
E até Pep Guardiola, o treinador catalão do Manchester City, associou um vídeo, no qual tece duras críticas ao governo espanhol, ao Tsunami Democràtic. A onda continua a inundar a Catalunha e, nas redes sociais, onde surgiu e se impõe, o movimento faz publicações com frequência, algumas das quais a promover as suas páginas e aplicações e outras a anunciar a divulgação de comunicados. Mas tudo, sob anonimato. Não há nomes, nem rostos, apenas a data de participação: "1 de agosto de 2019"
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— Tsunami Democràtic (@tsunami_dem) 15 de outubro de 2019