Centrado em regiões urbanas após a emergência da oposição armada contra o regime do Presidente Bashar al-Assad em agosto de 2011, o conflito está a ter efeitos devastadores num país com regime autocrático dominado pela minoria alauita mas com tradições multiétnicas e multirreligiosas.
A repressão das forças do regime, a militarização e radicalização da resistência, a crescente ingerência externa, da Arábia Saudita e Qatar ao Irão, o sectarismo e a emergência do fundamentalismo, atingiram de forma particular a população civil, com o êxodo em massa das cidades e regiões assediadas a assumir diversas formas, dependendo dos recursos das vítimas.
Um relatório do Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) divulgado em 29 de novembro refere que o elevado afluxo de refugiados sírios implicou que os recursos alimentares, água, cuidados de saúde e alojamento atingissem o limite nos principais países de acolhimento (Jordânia, Líbano, Turquia, Iraque, Egito), e que o sistema de ensino se encontre sem capacidade de resposta, afetando sobretudo as crianças.
O documento, elaborado após entrevistas a refugiados sírios na Jordânia e Líbano, alerta em particular para as terríveis condições das crianças refugiadas sírias, traumatizadas pelo conflito no seu país e confrontadas com uma "situação catastrófica" no exílio.
O Alto-comissário do ACNUR, António Guterres, afirmou que mais de três milhões de sírios já abandonaram o país, e alertou para a situação das crianças sírias, após um relatório ocidental referir que pelo menos 11.000 crianças já foram mortas no conflito, que já terá provocado mais de 125.000 mortos.
Os números da ONU sobre refugiados registados referem que metade deste número, cerca de 1,5 milhões, são crianças. "Existem numerosos danos psicológicos e muito trauma... Problemas de sono, mutismo, gaguez, incontinência urinária quando dormem", precisou o responsável da agência. Muitas crianças refugiadas são também forçadas a trabalhar para apoiarem as suas famílias, sendo forçadas a abandonar a escola.
O investigador Kalam Kawakibi, autor de um estudo sobre refugiados e deslocados apoiado pela União Europeia, refere-se a mais de cinco milhões de deslocados internos na Síria, um número muito significativo num país que antes da guerra contava 23 milhões de habitantes.
Responsáveis da Cruz Vermelha internacional e do Crescente Vermelho advertiram que um milhão de pessoas permanece sem acesso a bens alimentares na Síria.
Após admitirem que a situação se pode tornar catastrófica, as duas organizações reconheceram que apenas podem fornecer víveres a metade dos cerca de seis milhões de sírios forçados a abandonar as suas casas, mas que ainda permanecem no país.
No terreno, e na sequência de sucessivas vitórias militares sobre a rebelião, o regime pretende garantir uma posição de força na conferência Genebra-2 que a ONU, Estados Unidos e Rússia pretendem organizar em janeiro de 2014 após vários adiamentos, e terminar com a exigência da oposição sobre a exclusão de Bashar al-Assad de qualquer período de transição.
O apoio dos combatentes xiitas libaneses e iraquianos tem sido determinante para o regime de Damasco. Motivadas e bem treinadas, as forças do movimento radical libanês Hezbollah e da brigada Abul Fadel al-Abba têm feito a diferença no terreno.