"As reformas eram necessárias no sul, já aconteceram, apesar de não totalmente. Agora o norte tem que reconhecer isso e ser generoso: financiar a UE, por um lado, partilhar parte do risco monetário necessário para terminar o processo de união, mas também investir e financiar no sul", disse o multimilionário nascido na Alemanha.
"O sul fez reformas, o norte agora tem que financiar e permitir mais consumo e inflação, algo a que tem sido alérgico. O sul fez sacrifícios, chegou a altura de o norte o fazer também", afirmou à Lusa.
Nicolas Berggruen falava à Lusa em Madrid, onde na quinta e sexta-feira decorre um encontro promovido pelo Berggruen Institute on Governance, a que preside, dedicado ao tema da economia europeia, com especial destaque para o desemprego, a competitividade e a inovação.
"O desemprego e o desemprego juvenil é o problema mais visível e mais urgente na Europa. Mas é também um sintoma dos desafios mais amplos que a Europa enfrenta", considerou.
Berggruen recorda que o projeto europeu é "um federalismo inacabado" cujas fraquezas se demonstram agora, quando o resto do planeta já recuperou da crise financeira de 2008 e a Europa continua estagnada.
O problema é agravado pela falta de competitividade de alguns países que tiveram que fazer "reformas incríveis", como é o caso, destacou, de Portugal e Espanha, onde as mudanças tiveram um "custo incrível de sofrimento".
"Para ter um futuro, é preciso investimento e neste caso o investimento é este sofrimento que estão a sentir. Se não o fizerem, o futuro será ainda pior. O facto de Portugal e Espanha terem feito tanto sacrifício, a grande custo e sofrimento, deixará os dois países em melhor situação nos próximos anos", disse.
"É um processo de reconstrução incrivelmente difícil. Não é único a Portugal e Espanha. A diferença é ter ou não ter trabalho. É melhor ter empregos, menos bem pagos, do que não ter empregos. Não se pode aspirar logo a salários mais elevados. Só virão se a economia prosperar, se estiver a crescer, se houver procura. E a Europa não tem atualmente suficiente dinamismo económico, não tem suficiente procura", considerou.
A poucos meses das eleições europeias, Berggruen considera "normal" o aumento do euroceticismo, já que o projeto europeu "não está terminado" e isso tem feito sofrer muitos países, "alguns mais que outros, como Portugal".
"As pessoas estão muito frustradas e com razão. Bruxelas tem sido criada de uma forma algo não democrática. Os líderes nacionais nunca quiseram permitir líderes fortes, carismáticos e populares em Bruxelas", argumentou.
"Há questões nacionais que devem permanecer assim mas há outras que devem ser supranacionais. Os líderes nacionais devem explicar isso aos cidadãos, mesmo que não seja fácil ou popular fazê-lo", disse.
Filantropo e investidor, Nicolas Berggruen é um multimilionário que nasceu na Alemanha em 1961 mas tem vindo, progressivamente, a centrar as suas atenções nos Estados Unidos (tem atualmente dupla nacionalidade), liderando quer o Berggruen Institute on Governance quer o Berggruen Holdings, empresa privada de investimento.
O encontro de Madrid é inaugurado por Pascal Lamy, ex-responsável da OMC, seguindo-se ainda na tarde de quinta-feira as intervenções, entre outros, do ex-primeiro-ministro italiano Enrico Letta, da vice-presidente do Banco Europeu de Investimentos, Magdalena Álvarez.
Os trabalhos do primeiro dia encerram com intervenções do ministro da Economia espanhol, Luis de Guindos e do ex-chefes do executivo de Espanha, Felipe González e de Itália, Mario Monti.
Caberá ao primeiro-ministro Pedro Passos Coelho abrir os trabalhos do segundo e último dia do encontro, que será encerrado pelo presidente do Governo espanhol, Mariano Rajoy.
No segundo dia estão ainda previstas, entre outras, as intervenções de vários empresários espanhóis, incluindo Pablo Isla da Inditex, César Alierta da Telefonica e Juan Luis Cebrian da Prisa e do líder socialista espanhol Alfredo Pérez Rubalcaba.